Bactérias são modificadas geneticamente para decompor os plásticos dos oceanos
Em um estudo recente, pesquisadores desenvolveram uma bactéria modificada geneticamente para ser capaz de decompor o lixo plástico presente em águas salgadas.
A poluição por plásticos nos oceanos é um problema sério. Uma pesquisa publicada em março deste ano na revista PLOS ONE identificou um aumento “rápido e sem precedentes” na poluição plástica oceânica desde 2005. Os autores analisaram dados coletados em quase 12.000 pontos de amostragem nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico e no Mar Mediterrâneo. Foi encontrado que os oceanos possuem aproximadamente 171 trilhões de partículas de plástico, que juntas pesariam cerca de 2,3 milhões de toneladas.
A maioria desse lixo plástico vem da terra, arrastada para os rios – pela chuva, vento, transbordamento de bueiros – e transportada para os oceanos. Uma pequena quantidade, mas ainda significativa, vem de equipamentos de pesca, que são perdidos ou despejados no mar.
Esses plásticos nas águas oceânicas representam uma séria ameaça à vida marinha e aos ecossistemas. Animais podem ficar presos neles ou confundir com alimento, as micropartículas também podem liberar substâncias tóxicas… Agora, surge um novo estudo no qual pesquisadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte desenvolveram geneticamente uma bactéria para decompor o plástico das águas salgadas.
Como o plástico pode ser desmanchado nos oceanos?
Os cientistas projetaram geneticamente um microrganismo marinho formado por bactérias para decompor o tereftalato de polietileno (PET) das águas salgadas (oceanos). Este material é um plástico amplamente utilizado e fabricado, sendo usado desde em garrafas de água até em roupas.
Para chegar a isso, eles usaram duas espécies de bactérias marinhas: a Vibrio natriegens, que vive em ambientes com grandes concentrações de sais e se reproduz muito rapidamente; e a Ideonella sakaiensis, que produz enzimas que decompõem o PET e podem ‘comê-lo’.
Com isso, o DNA da I. sakaiensis foi incorporado em um plasmídeo. Plasmídeos são sequências genéticas que podem se replicar em uma célula, independente do cromossomo da própria célula. Ou seja, você pode inserir um plasmídeo em uma célula estranha e ela executará as instruções do DNA do plasmídeo.
Aí, eles introduziram o plasmídeo contendo os genes da I. sakaiensis na bactéria V. natriegens, e conseguiram fazer com que a V. natriegens produzisse as enzimas desejadas na superfície de suas células. Então, os cientistas demonstraram que a V. natriegens foi capaz de decompor o PET em um ambiente de água salgada à temperatura ambiente (30 ºC).
Esta é a primeira vez que alguém relata com sucesso que a bactéria V. natriegens conseguiu expressar enzimas externas na superfície de suas células. “Do ponto de vista prático, este é também o primeiro organismo geneticamente modificado que conhecemos que é capaz de decompor microplásticos PET em água salgada”, disse Tianyu Li, autor principal do artigo.
Contudo, embora este seja um primeiro passo importante para a destruição de plásticos na água salgada, ainda existem alguns obstáculos, segundo os pesquisadores. Mas nada que os desanimem a seguir com os trabalhos! Nathan Crook, coautor do estudo, disse: “(...) seria melhor se pudéssemos decompor estes plásticos em produtos que pudessem ser reutilizados. Para que isso funcione, você precisa de uma maneira barata de quebrar o plástico. Nosso trabalho aqui é um grande passo nessa direção”.