Baleias do Atlântico Norte estão diminuindo de tamanho e tendo menos filhotes. O que está por trás disso?
Pesquisadores analisaram dados e imagens de baleias-franca fêmeas nas últimas décadas e identificaram que elas estão diminuindo de tamanho e, consequentemente, tendo menos filhotes. Mas por que?
A baleia-franca do Atlântico Norte (Eubalaena glacialis) é uma espécie atualmente considerada em sério risco de extinção. Uma vez dizimadas pelos baleeiros (pescadores), estima-se que existam cerca de 356 delas e apenas 100 sejam fêmeas em idade reprodutiva.
Em um estudo publicado recentemente na revista Royal Society Open Science, os pesquisadores compararam o tamanho das baleias fêmeas ao longo das últimas décadas, e notaram que elas estão reduzindo de tamanho. Essa diminuição do tamanho do corpo está associada à redução da probabilidade de parto, ou seja, elas estão tendo menos filhotes. E o que está por trás disso?
Baleias menores e com menos filhotes
Para o estudo, os pesquisadores analisaram dados do Consórcio de baleias-francas do Atlântico Norte (NARWC) entre 1970 e 2020, e também medições feitas a partir de imagens aéreas para calcular a massa corporal das baleias. Eles usaram um modelo estatístico para entender a relação entre o comprimento, a saúde, a sobrevivência e a capacidade de reprodução de uma fêmea sexualmente madura.
Os pesquisadores descobriram que elas estão ficando menores, e essa redução no tamanho faz com que tenham menos chances de procriar e ter filhotes. Em média, uma fêmea de 14 metros tinha 56% de chances de dar à luz, enquanto uma fêmea de 11 metros tinha apenas 14% de chance.
O comprimento do corpo teve um impacto muito maior na probabilidade de parto do que a saúde ou outra variável aleatória. Acontece que as baleias usam substâncias orgânicas chamadas lipídios para obter energia suficiente para a reprodução. “Ser menor significa que uma fêmea pode acumular menos energia em termos absolutos, o que, por sua vez, pode afetar a sua capacidade de se reproduzir com sucesso”, disse Enrico Pirotta, ecologista da Universidade de St. Andrews e autor principal da pesquisa.
Segundo os autores, as mudanças climáticas e outros fatores de estresse, como a falta de nutrientes, causaram as reduções no tamanho corporal das baleias, com consequências para suas populações. Isso corrobora com estudos anteriores, que demonstraram uma menor abundância de krill (um dos principais alimentos das baleias) por causa do aumento da temperatura do mar, deixando as baleias atualmente 25% mais magras do que na década de 1980.
Além disso, segundo os pesquisadores, a redução no tamanho das baleias-franca foi documentada em paralelo com declínios na saúde e nas taxas vitais resultantes de atividades humanas e mudanças ambientais. Eles descobriram que 62% da variação no parto entre as fêmeas reprodutivas está ligada à diminuição de 20% da sua saúde.
A pesquisa focou nas espécies de baleias criticamente ameaçadas, já que sua vulnerabilidade a ameaças humanas significa que são necessárias mais proteções eficazes. Dessa forma, o estudo faz um apelo para que sejam feitas “intervenções de conservação e gestão na melhoria das condições que afetam a reprodução, bem como na redução da mortalidade” das baleias-franca do Atlântico Norte.
Referência da notícia:
Pirotta, E. et al. Decreasing body size is associated with reduced calving probability in critically endangered North Atlantic right whales. Royal Society Open Science, v. 11, n. 2, 2024.