Brasil em decadência: queimadas, calor recorde, seca histórica e pior qualidade do ar do mundo

O Brasil tem passado por uma sequência de eventos extremos e altamente prejudiciais nas últimas semanas, desde uma seca histórica até a pior qualidade do ar do mundo. Confira esses eventos em detalhes.

3 milhões de hectares foram destruídos por queimadas nos últimos três meses.
De acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da UFRJ, cerca de 3 milhões de hectares foram destruídos por queimadas nos últimos três meses.

Nas últimas semanas, o Brasil tem passado por uma sequência de eventos extremos e e fenômenos climáticos altamente prejudiciais, não só para a população humana como também para toda a rica fauna e flora do país. A seguir, você encontrará uma síntese de tudo o que está acontecendo.

Número recorde de incêndios e queimadas atinge o Brasil

O Brasil está com quase 5 milhões de quilômetros quadrados cobertos por fumaça - cerca de 60% do território do país, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A fumaça vem principalmente do sul da Amazônia, mas também há outros biomas sendo queimados.

De acordo com o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da UFRJ, cerca de 3 milhões de hectares foram destruídos por queimadas nos últimos três meses.

O Pantanal, por exemplo, registrou mais que o dobro de incêndios em relação ao mesmo período de 2023, saltando de 373 para 1.400 focos de incêndio. A Amazônia já registrou 24.803 focos de incêndio só nos primeiros dias de setembro, e o Cerrado 18.023 focos.

Brasil liderou ranking mundial de pior qualidade do ar

Graças à grande quantidade de fumaça sobre o Brasil, São Paulo registrou a pior qualidade do ar do mundo durante vários dias consecutivos, segundo a agência suíça IQAir, que monitora em tempo real mais de 100 cidades. Além de São Paulo, Porto Velho e Rio Branco também lideraram o ranking de poluição na última semana.

São Paulo registrou a pior qualidade do ar do mundo.
São Paulo registrou a pior qualidade do ar do mundo durante vários dias consecutivos, segundo a agência suíça IQAir, que monitora em tempo real mais de 100 cidades.

A situação também é impulsionada pela baixíssima umidade do ar, que está atingindo valores abaixo de 15%, similares aos normalmente registrados no Deserto do Saara. Por sua vez, a baixa umidade relativa é impulsionada pelas secas severas que atingem o país.

A seca mais severa já registrada desde 1950

De acordo com dados do CEMADEN, a seca que atinge o Brasil em 2024 já afeta cerca de 5 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, mais da metade do território nacional. Em agosto, 3.978 municípios enfrentaram condições de seca (70% do Brasil), com 201 municípios em situação extrema.

Essa seca, que começou em 2023, é a mais abrangente e intensa desde 1950, afetando principalmente as regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Dados como o Índice de Precipitação-Evapotranspiração Padronizado (SPEI) mostram que a intensidade atual da seca é a mais grave registrada em mais de sete décadas.

Brasil entre os três locais mais quentes do mundo

Graças à essa situação, desde o início de setembro, o Brasil enfrenta também uma onda de calor histórica, com temperaturas superiores a 40°C em várias cidades, especialmente no Centro-Oeste, Sudeste e no Norte do país.

O Brasil é, neste momento, a região mais quente do Hemisfério Sul - Mais quente inclusive que os desertos no noroeste da Austrália, que estão registrando temperaturas cerca de 5 graus mais baixas que as do Brasil.

Nos últimos dias, modelos meteorológicos indicaram a ocorrência de temperaturas de até 43°C no Mato Grosso do Sul - O que implica que a região foi a mais quente de todo o Hemisfério Sul, e a terceira mais quente do planeta inteiro, ficando atrás apenas dos desertos da Arábia e do sul da Califórnia.

Mudanças climáticas impulsionam eventos extremos no Brasil

Esses eventos extremos no Brasil estão associados a algumas oscilações climáticas naturais, como o El Niño e a Oscilação Multidecadal do Atlântico, mas sua causa também pode ser traçada até as mudanças climáticas causadas pela ação humana - o famoso aquecimento global.

Agosto de 2024 foi o Agosto mais quente da história.
Agosto de 2024 foi o décimo terceiro mês, em um período de 14 meses, registrado como o mais quente da história, de acordo com o observatório europeu Copernicus.

Uma quantidade crescente de estudos têm mostrado que as mudanças climáticas têm intensificado a frequência e a força dos fenômenos meteorológicos extremos, tornando-os cada vez mais comuns.

Quando meteorologistas falam de fenômenos extremos, isso inclui não só as ondas de calor e estiagens severas, como também outros fenômenos - como as chuvas torrenciais extremas que causaram inundações no Sul do Brasil no início de 2024.

Vale notar que Agosto de 2024 já é o décimo segundo mês em sequência registrado como o mais quente da história, de acordo com o observatório europeu Copernicus. Em outras palavras, o último ano foi o mais quente já registrado.

O que podemos fazer?

Pequenas ações individuais, como comprar e consumir de maneira consciente, destinar corretamente o lixo reciclável e orgânico e reduzir o consumo de carne, podem causar impactos positivos na questão climática, especialmente quando adotados por um número cada vez maior de pessoas.

No entanto, por ser um problema global, o mais importante é, de longe, pressionar os governos e grandes indústrias a se comprometerem com o Acordo de Paris, que visa reduzir substancialmente as emissões globais de gases de efeito estufa. Políticas de larga escala são a arma mais eficaz que temos para combater o aquecimento global.