Calor extremo faz abelhas perderem a habilidade de sentir o cheiro de flores, prejudicando a polinização

Um novo estudo identificou que as ondas de calor podem fazer com que as abelhas percam a sua habilidade de sentir o aroma das flores, prejudicando assim o processo de polinização.

Abelha-europeia (Apis mellifera)
Abelha-europeia (Apis mellifera) pousando em uma flor de morango. Crédito: Cristiano Menezes.

O perfume das flores é o que atrai os insetos polinizadores, os quais têm um papel essencial na reprodução de culturas agrícolas, garantindo a diversidade de plantas. As abelhas são um dos principais insetos polinizadores, que transportam em seus pêlos os grãos de pólen de uma planta para outra.

Dentre os vários efeitos prejudiciais das mudanças climáticas na população de abelhas que a ciência já demonstrou, agora um novo estudo publicado na revista Proceedings of the Royal Society B identificou mais um ponto negativo: as ondas de calor podem prejudicar significativamente a habilidade das abelhas de detectar o aroma das flores, e isso pode prejudicar o importante processo de polinização.

Olfato das abelhas comprometido devido ao calor extremo

O estudo foi realizado por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Würzburgo, na Alemanha, com o objetivo de analisar o impacto das altas temperaturas nas abelhas. E para isso, eles coletaram 190 insetos de duas espécies comuns na Europa: os zangões-cardadores comuns (Bombus pascuorum) selvagens e os zangões (Bombus terrestris) de um apiário comercial, estes últimos também conhecidos como mamangava-de-cauda-amarela-clara.

Os insetos foram colocados em tubos de 50 mL, e foi simulada uma onda de calor: aumentaram a temperatura no interior dos tubos para 40°C por quase três horas seguidas.

Os sensores de odores localizados nas antenas das abelhas detectam as moléculas odoríferas das plantas e enviam sinais elétricos ao cérebro, indicando ao inseto a localização precisa da fonte do perfume.

Logo após, as antenas das abelhas foram removidas e colocadas em pequenos tubos de vidro para medir suas respostas elétricas. Como elas ainda ficam ativas por algum tempo após serem retiradas do corpo do animal, elas foram expostas a jatos de ar de três compostos responsáveis por dar o aroma das flores — ocimeno, geraniol e nonanal.

Os pesquisadores observaram que a exposição ao calor diminuiu significativamente a resposta das antenas a todos os três aromas, chegando a reduzir a resposta em até 80% em alguns casos.

zangão-cardador (Bombus pascuorum)
O zangão-cardador comum (Bombus pascuorum) pousando em uma flor. Crédito: Divulgação.

A espécie selvagem coletada na natureza (zangão-cardador) pareceu ser menos resistente ao calor em comparação com o zangão criado em apiário. Em ambas as espécies, as operárias fêmeas, as responsáveis por coletar alimento para a colmeia, pareceram mais vulneráveis ao calor do que os machos.

E mesmo um período de regeneração subsequente em temperaturas adequadas não levou imediatamente a uma melhora; 24 horas após os testes de calor, a maioria dos espécimes ainda apresentava deficiências.

"Os zangões são polinizadores importantes em sistemas naturais e agrícolas. Portanto, têm alto valor econômico e de biodiversidade. Descobrimos que o calor prejudicou significativamente a capacidade dos zangões de detectar aromas florais. Eles praticamente perdem o olfato” - Sabine Nooten, autora principal do estudo.

A pesquisa confirma que as ondas de calor desempenham um papel fundamental na interação entre insetos e plantas, e serve como um importante direcionador para futuras iniciativas de conservação de espécies, visto que esses fenômenos tendem a ser mais intensos e frequentes no futuro.

Referências da notícia:

Nooten, S. S. et al. The heat is on: reduced detection of floral scents after heatwaves in bumblebees. Proceedings of the Royal Society B, v. 291, n. 2029, 2024.

News Medical Life Sciences. “High temperatures affect bumblebee sense of smell and pollination efficiency”. 2024.