Capacitismo ambiental: um desafio urgente no enfrentamento das tragédias climáticas no Brasil
A exclusão das pessoas com deficiência nas estratégias de enfrentamento das tragédias climáticas é um reflexo do capacitismo ambiental, o que agrava os riscos enfrentados por essa população durante desastres no Brasil.

As calamidades climáticas já não são uma ameaça distante, mas uma realidade iminente no Brasil, onde eventos extremos se tornaram cada vez mais frequentes. Segundo dados de 2022, o país liderou os desastres geo-hidrológicos nas Américas, refletindo um aumento no número de vítimas e danos. Entre os mais afetados estão as pessoas com deficiência, que enfrentam barreiras significativas para se proteger e sobreviver a esses desastres. O termo “capacitismo ambiental” descreve essa exclusão, que limita o acesso dessas pessoas a informações e recursos essenciais para a segurança em contextos de emergência.
Autoras de um artigo sobre o tema, Laís Silveira Costa, doutora em Saúde Pública, e Vitória Bernardes, psicóloga da Fundação Oswaldo Cruz, destacam que o capacitismo ambiental se manifesta por meio de barreiras físicas, tecnológicas, comunicacionais e informacionais, dificultando o acesso das pessoas com deficiência aos cuidados emergenciais e à assistência necessária. A exclusão dessas pessoas dos debates sobre justiça climática e enfrentamento das mudanças climáticas é uma realidade que agrava ainda mais os riscos a que estão expostas.
Capacitismo ambiental: a discriminação nas políticas de resposta aos desastres
De acordo com as especialistas, a desconsideração das condições de vulnerabilidade dessa população nos planos de resposta aos desastres climáticos é um erro grave. “A taxa de mortalidade de pessoas com deficiência em desastres é duas vezes maior do que a de pessoas sem deficiência, como evidenciado pelo terremoto no Japão”, afirmam. Além disso, a falta de infraestrutura acessível, como rampas, elevadores e serviços de saúde adequados, limita a capacidade dessas pessoas de se evacuar rapidamente, o que aumenta o risco de morte e exclusão nas fases de recuperação pós-desastre.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2022 revelam que 16% da população mundial, ou seja, 1,3 bilhão de pessoas, têm algum tipo de deficiência, sendo 80% dessas pessoas concentradas no Sul Global.
No Brasil, quase 19 milhões de pessoas estão em risco durante eventos climáticos extremos. Apesar disso, a representação das pessoas com deficiência em relatos de desastres ambientais ainda é rara, como exemplificado pela ausência de imagens de cadeirantes enfrentando enchentes, por exemplo.
Para as autoras, é fundamental que as políticas públicas de enfrentamento da crise climática integrem as necessidades específicas dessa população.
Isso inclui considerar a interdependência das pessoas com deficiência e suas famílias, garantindo acesso a recursos e apoio durante e após os desastres.
A urgência de um pacto civilizatório inclusivo para enfrentar a crise climática
Em um cenário em que a marginalização das pessoas com deficiência é histórica, a ausência de estratégias inclusivas compromete a eficácia das respostas aos desastres. Costa e Bernardes ressaltam que é urgente criar um novo pacto civilizatório, onde a inclusão dessas pessoas nos planos de resposta e recuperação seja garantida. “Sem a participação plena das pessoas com deficiência, não seremos capazes de entender as raízes da marginalização e avançar na preservação da diversidade humana e do direito à vida”, concluem as autoras.
Portanto, é necessário que o Estado brasileiro, a comunidade científica e os movimentos sociais se unam para enfrentar a crise climática de forma inclusiva, garantindo que as pessoas com deficiência não sejam deixadas para trás nas estratégias de adaptação e recuperação. O enfrentamento das tragédias climáticas precisa ser um esforço coletivo, que respeite e reconheça a diversidade humana em todas as suas dimensões.
Referências da notícia
The Conversation. Capacitismo ambiental: um obstáculo a ser superado no enfrentamento das tragédias climáticas no Brasil. 2025