Carrapatos preferem sangue humano conforme a mudança do clima
Experimentos sugerem que carrapatos preferem sangue humano com o aumento da temperatura. Isso significa que pode haver maior disseminação de doenças transmitidas por carrapatos com as mudanças climáticas.
Carrapatos são parasitas externos, que se fixam em seres vivos para se alimentar do seu sangue. Pertencem à classe dos aracnídeos (assim como as aranhas e os escorpiões) e estão presentes em quase todos os continentes, atacando mamíferos, répteis, aves e anfíbios - sejam eles silvestres ou domésticos.
Estas criaturas podem ser encontrados em duas fases distintas de vida: A fase de vida livre, onde caminham pelo solo, em buracos, ninhos e vegetação; e a fase de parasitismo, quando se fixam em um ser vivo para se alimentar e lá permanecem.
Os carrapatos já são bastante conhecidos e estudados pelos biólogos. O que eles não sabíam, no entanto, é que os carrapatos podem mudar de alvo conforme variações na temperatura ambiente. A descoberta foi apresentada este ano na Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene.
Os experimentos mostraram que, em temperaturas próximas aos 38 °C, alguns carrapatos marrons deixam de ser atraídos por cães e passam a preferir o sangue de seres humanos. A temperatura é equivalente às máximas registradas nos dias mais quentes do ano no Brasil.
Um dos grandes perigos que os carrapatos trazem para os seres humanos é a febre maculosa, que pode ser transmitida através da sua picada. A descoberta sugere que um clima mais quente pode levar a uma maior disseminação da doença dos carrapatos para os humanos.
Pacientes com febre maculosa podem morrer se não receberem tratamento com antibióticos em no máximo cinco dias, e até 10% das pessoas infectadas sucumbem à doença.
Outras pesquisas anteriores na Europa já sugeriam que os carrapatos eram mais agressivos com as pessoas em climas quentes. Para descobrir se a preferência de hospedeiros dos carrapatos depende da temperatura, Backus e os demais pesquisadores capturaram bebês e adultos de dois grupos ou linhagens geneticamente distintas da espécie de carrapato Rhipicephalus Sanguineus.
Uma das linhagens veio de uma região muito quente do Arizona, e a outra de Oklahoma, onde os carrapatos toleram climas mais frios. Os cientistas então compararam o seu comportamento em temperaturas diferentes, colocando-os em um tubo de plástico e dando-lhes a opção de se mover em direção a um ser humano ou um cachorro.
Em condições normais, os carrapatos preferem o sangue canino. No entanto, em temperaturas mais elevadas, o número de carrapatos se movendo em direção ao sangue humano dobrou. Isso significa que, com o aumento da temperatura, um número maior de carrapatos deve atacar seres humanos, especialmente os provenientes de regiões tropicais e mais quentes.
Não está claro por que os carrapatos mudaram sua preferência em altas temperaturas, mas é possível que seus receptores químicos sejam ativados de maneira diferente e mudem a percepção do aracnídeo. O resultado se torna bastante relevante em um cenário onde as mudanças climáticas podem fazer as temperaturas globais aumentarem nos próximos anos.
Nas últimas duas décadas, já tem sido registrado um aumento contínuo no número de pessoas infectadas por carrapatos nos Estados Unidos. Backus diz que sua equipe ainda precisará estudar carrapatos de outras regiões para coletar um conjunto maior de dados e procurar padrões que possam explicar o fenômeno.
De qualquer maneira, a descoberta pode ser o primeiro passo para desvendar o aumento de surtos de doenças relativas ao aracnídeo, especialmente na região das Montanhas Rochosas.