Catarina: O furacão do Brasil

O ano de 2004 ficou marcado como o ano em que o Brasil teve o seu primeiro furacão registrado. O ciclone tropical foi responsável pela morte direta de pelo menos 11 pessoas e até hoje provoca questionamentos entre os meteorologistas.

Imagem do furacão Catarina vista do espaço.

Estamos na estação de furacões do Hemisfério Norte, nos noticiários é comum ouvir falar dos sistemas que avançam pela costa leste e oeste dos Estados Unidos. E com certeza muitos brasileiros dizem a seguinte frase nessa situação: “temos sorte, afinal não temos furacões no Brasil”. Essa frase é um grande mito que cientificamente foi quebrado no ano de 2004 com a formação do Catarina, que infelizmente provocou a morte de pelo menos quatro pessoas.

Esse furacão é extremamente intrigante, pois não é comum a formação de sistemas desse tipo nessa região do Oceano Atlântico entre as latitudes de 20 e 30ºS. Além disso, as correntes de vento em níveis médios e altos sopram de oeste para leste, levando os sistemas meteorológicos do continente para o mar, e o ciclone tropical Catarina fez exatamente o trajeto oposto, se movendo de leste para oeste em direção à costa do estado de Santa Catarina. Esse panorama desperta, até hoje, questionamentos na comunidade meteorológica do Brasil e do mundo, que até em pesquisas recentes tendem desvendar as condições atmosféricas que levaram ao Catarina.

Para entender mais sobre o processo de formação de furacões e as peculiaridades do Catarina, conversamos com o professor da Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) Luiz Felippe Gozzo, que estudou a fundo o sistema tropical ao longo do seu doutorado.

Imagem de satélite no canal do visível do furacão Catarina e suas características.

Entrevista com o professor Luiz Felippe Gozzo

“Para um ciclone tropical se formar e intensificar, ele precisa de três ingredientes fundamentais: o vento horizontal não pode ser forte, ou seja, ele deve se manter constante conforme subimos na atmosfera, isso nós chamamos de fraco cisalhamento vertical do vento. A temperatura da superfície do mar deve ser alta, acima de 26,5ºC, mas esse valor pode variar um pouco. E precisa existir uma perturbação, uma tempestade, com força suficiente para dar origem ao furacão.

Gozzo ainda completa sobre a formação do Catarina: “Ele é especial, pois na região onde se formou foi necessária a combinação desses fatores que não são comuns em tal área do oceano, isto é, a região é muito desfavorável à formação de ciclones tropicais. Isso também faz com que o Catarina seja o único furacão documentado na bacia do Atlântico Sul”.

O professor da UNESP finaliza falando sobre as dificuldades em compreender sistemas tão especiais quanto o Catarina: “Como a formação se deu em condições especiais, seu ciclo de vida também não foi tradicional, como dos furacões que conhecemos. Estudei o Catarina no meu doutorado, e com certeza, o maior desafio que encontrei foi de simular o sistema em um modelo meteorológico, que possuem uma grande dificuldade em enxergar o desenvolvimento dele”.