Ceticismo cresce entre especialistas sobre o cumprimento das metas de aquecimento global, aponta estudo
Um estudo recente revela que a maioria dos especialistas do IPCC está cética quanto ao cumprimento das metas de aquecimento global, apesar de algum otimismo em relação à possibilidade de alcançar emissões líquidas zero nas próximas décadas.
Recentemente, um estudo importante foi publicado na revista Nature Communications Earth & Environment, trazendo à tona as percepções dos autores do IPCC sobre as futuras emissões de dióxido de carbono (CO₂) e o aquecimento global. Este levantamento coletou as opiniões de 211 especialistas que contribuíram para os relatórios do IPCC, destacando a visão desses cientistas sobre o cumprimento das metas de aquecimento estabelecidas pelo Acordo de Paris e o caminho para as emissões líquidas zero.
Os resultados oferecem uma visão interessante sobre a diferença entre os cenários de aquecimento projetados e as expectativas pessoais dos cientistas envolvidos na modelagem do futuro climático. Neste artigo, discutiremos os principais achados deste estudo, focando na dificuldade de alcançar as metas de temperatura e nas previsões para a mitigação das emissões de CO₂.
Ceticismo sobre as metas de aquecimento Global
A maioria dos especialistas entrevistados expressou ceticismo quanto à possibilidade de limitar o aumento da temperatura global a menos de 2°C, conforme estipulado no Acordo de Paris.
Esses números refletem a percepção de que as políticas climáticas atuais não são suficientes para conter o aquecimento dentro dos limites desejados. O estudo reforça que, embora haja avanços em algumas áreas, a falta de ambição climática global e o atraso na implementação de ações significativas tornam cada vez mais improvável que os objetivos do Acordo de Paris sejam cumpridos.
Otimismo em relação às emissões líquidas zero
Em contraste com o ceticismo sobre o aquecimento, os especialistas demonstraram um relativo otimismo em relação à possibilidade de atingir as emissões líquidas zero de CO₂ até a segunda metade deste século. Cerca de 66% dos participantes acreditam que o mundo atingirá a neutralidade de carbono antes de 2085, com uma estimativa mediana em torno de 2075.
Essa previsão está alinhada com os cenários que limitariam o aquecimento a menos de 2°C, o que sugere um paradoxo interessante: embora os cientistas acreditem que as emissões de CO₂ possam ser controladas, ainda há incertezas significativas sobre o impacto dessas reduções na temperatura global.
Além disso, os participantes também demonstraram otimismo sobre o potencial da remoção de CO₂ da atmosfera, com uma estimativa mediana de 5 gigatoneladas de CO₂ removidas por ano até 2050. Esse número está na faixa mínima necessária para atingir as metas climáticas do Acordo de Paris, o que aponta para uma possível dependência futura de tecnologias de remoção de carbono para mitigar os efeitos das emissões já realizadas.
Esse contraste sublinha a complexidade do problema climático e a necessidade urgente de políticas mais ambiciosas para alcançar um futuro sustentável. Com base nessas percepções, fica claro que, para evitar os piores impactos das mudanças climáticas, é fundamental que governos, empresas e cidadãos intensifiquem seus esforços agora, enquanto ainda há tempo para limitar os danos.
Referência da noticia:
Wynes, S., Davis, S.J., Dickau, M. et al. Perceptions of carbon dioxide emission reductions and future warming among climate experts.Commun Earth Environ 5, 498 (2024). https://doi.org/10.1038/s43247-024-01661-8