Chuvas históricas de maio de 2024: a explicação científica por trás da tragédia no Sul do Brasil
Em maio de 2024, o sul do Brasil enfrentou chuvas históricas que causaram enchentes devastadoras. Um novo estudo revela as causas científicas desse fenômeno extremo, que afetou milhões de pessoas e trouxe graves consequências socioambientais para a região.
Em maio de 2024, o estado do Rio Grande do Sul, no Brasil, enfrentou uma das mais severas crises ambientais de sua história recente, marcada por chuvas extremas que resultaram em inundações devastadoras. Um novo estudo, conduzido por cientistas brasileiros, trouxe uma análise detalhada dos fatores climáticos que desencadearam esse evento catastrófico, suas consequências e as possíveis lições para o futuro.
O evento climático extremo de 2024
Entre os dias 26 de abril e 5 de maio de 2024, a região central e norte do Rio Grande do Sul foi atingida por precipitações acumuladas superiores a 400 mm, com algumas áreas registrando mais de 800 mm de chuva durante o período. Este volume de precipitação é quase seis vezes maior que a média histórica para o mês de abril, que costuma ser de cerca de 150 mm, de acordo com o estudo.
O estudo revela que esse evento climático extremo foi causado por uma combinação complexa de fatores atmosféricos de larga escala. Um dos principais impulsionadores foi uma anomalia de calor no Oceano Índico Ocidental, que gerou ondas atmosféricas conhecidas como ondas de Rossby, resultando em uma circulação anômala sobre o Brasil.
Enquanto a maior parte do país experimentava condições secas, o sul foi atingido por uma corrente de ar úmido transportado por jatos de baixos níveis que trouxeram umidade da Amazônia para o Rio Grande do Sul.
Impactos no Rio Grande do Sul
Os impactos das chuvas foram severos. A cheia do rio Guaíba, que atingiu a marca histórica de 5,35 metros, superou o recorde anterior de 1941. As enchentes não apenas causaram danos materiais e perdas humanas significativas, como também afetaram grandes áreas agrícolas e urbanas. Mais de 478 municípios, ou 96% do estado, foram afetados. A cidade de Porto Alegre e outras regiões metropolitanas sofreram os piores efeitos, com inundações atingindo mais de 300 mil residências.
O estudo também sugere que eventos como este podem se tornar mais frequentes e intensos no futuro devido às mudanças climáticas. O aumento das temperaturas globais está contribuindo para uma maior evaporação dos oceanos, intensificando os ciclos de precipitação. No caso do sul do Brasil, essas alterações climáticas podem aumentar a vulnerabilidade da região a episódios de chuvas extremas e inundações.
Os autores do estudo enfatizam a necessidade urgente de melhorar as estratégias de monitoramento e alerta de desastres no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul. A ampliação da rede de estações meteorológicas e a instalação de mais radares meteorológicos são medidas essenciais para prever com maior precisão esses eventos. Além disso, são necessárias melhorias nas infraestruturas urbanas, principalmente nas áreas mais vulneráveis às inundações.
Em suma, o episódio de precipitação extrema que atingiu o sul do Brasil em 2024 é um lembrete das consequências devastadoras que eventos climáticos anômalos podem ter. É vital que políticas públicas, investimento em infraestrutura e conscientização da população sejam implementados para mitigar os impactos futuros.
Referência da noticia:
Reboita, M.S.; Mattos, E.V.; Capucin, B.C.; Souza, D.O.d.; Ferreira, G.W.d.S. A Multi-Scale Analysis of the Extreme Precipitation in Southern Brazil in April/May 2024. Atmosphere 2024, 15, 1123. https://doi.org/10.3390/atmos15091123