Ciclones extratropicais e Mudanças Climáticas no Brasil
Os ciclones extratropicais afetam o tempo e clima em boa parte do Brasil, por estarem relacionados ao regime de chuvas e eventos extremos. Pesquisas sobre como as mudanças climáticas vão afetar o comportamento desse tipo de sistema são essenciais para o gerenciamento hídrico e de desastres no país.
É frequente ouvirmos falar sobre frentes frias nas previsões do tempo, e elas vem normalmente acompanhas da notícia de chuvas, ventos fortes e inundações. As frentes frias são associadas aos ciclones extratropicais, que atuam com frequência na América do Sul e oceano adjacente.
A variabilidade na ocorrência desse sistema atmosférico está ligada ao regime de chuvas no país e a eventos extremos ao longo da costa sul e sudeste. Por tanto, saber como os ciclones extratropicais vão se comportar nas mudanças climáticas é importante para o gerenciamento hídrico e de desastres no país.
Visão global
As mudanças nos ciclones extratropicais ao redor do mundo vem sendo estudadas desde dos anos 2000. De forma geral, a ocorrência desses sistemas tende a diminuir no globo e sua faixa de atuação está se deslocando em direção aos pólos. Além disso, outra mudança encontrada em diversos estudos que analisam as projeções climáticas é a intensificação desses sistemas de baixa pressão.
Essas mudanças no padrão de atuação dos ciclones extratropicais descritas para o globo afetam severamente as regiões em médias latitudes, entre 30ºS - 60ºS, que poderão apresentar uma tendência de déficit no balanço hídrico, já que dependem das chuvas trazidas por sistemas de baixa pressão.
Também há um potencial aumento de eventos extremos, já que os ciclones tendem a ficar mais fortes. O alerta fica principalmente em altas latitudes, entre 60ºS e 80ºS, onde a frequência de ciclones deve aumentar. Mas mesmo regiões em médias latitudes, como o Sudeste e Sul do país podem sofrer as consequências dessa intensificação, como aumento de chuvas muito intensas, alagamentos, ondas fortes e ressacas.
Foco no regional
Apesar dessa visão geral das tendências dos ciclones extratropicais nas projeções futuras ser importante, é necessário um estudo mais regional das mudanças. Principalmente porque a resolução espacial dos modelos climáticos ainda não é suficiente para representar com detalhes feições essenciais para o desenvolvimento dos ciclones extratropicais na América do Sul, como orografia (relevo), gradientes de temperatura de superfície do mar e fluxo de umidade.
Um artigo publicado nesse mês na Climate Dynamics mostrou que, apesar da redução de 2,6% na ocorrência de ciclones na América do Sul durante o inverno, há uma tendência de aumento na precipitação. A chuva estaria associada à fase de desenvolvimento dos ciclones extratropicais, e, portanto, seria restrita às regiões propícias para o "nascimento" de ciclones: costa da Argentina, Uruguai e Sul do Brasil.
A Dra. Michelle Reboita, professora da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) e seus coautores utilizaram um modelo regional, com uma melhor resolução, para "refinar" as informações dos modelos climáticos globais e compararam o período de "presente", de 1995 a 2014, com o "futuro", de 2080 a 2099.
Os resultados do artigo vão de encontro com os poucos trabalhos que existem sobre os ciclones extratropicais e mudanças climáticas focados na América do Sul - quando comparados com regiões do Hemisfério Norte, por exemplo. É fundamental que pesquisas como essa continuem para entendermos melhor as consequências do aquecimento global no nosso país e elaborar um plano de mitigação adequado para os desafios que virão.