Ciência e a tecnologia brasileiras podem morrer de fome
Carta publicada na revista Science expõe a situação precária em que pesquisadores brasileiros trabalham e revela que a ciência e a tecnologia do país estão violentamente ameaçados.
Nos últimos anos e, particularmente, desde o início da atual crise econômica, o Brasil tem observado silenciosamente múltiplos cortes de verba para a ciência e a educação. O mais recente, em Outubro, reduziu uma proposta de financiamento suplementar em nada menos que 87%.
Agora, uma carta publicada na Science revela a situação precária de cientistas brasileiros e pesquisadores que ainda continuam lutando pelo país. Os salários de pesquisadores desenvolvendo mestrado e doutorado variam entre 1500 e 2200 reais, valor que não é reajustado desde 2013 mesmo com o país atingindo níveis recordes de inflação.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), que deveria ser a base de todo este sistema, perdeu 52% do seu orçamento e voltou ao mesmo patamar de duas décadas atrás - precisando, no entanto, lidar com 4 vezes mais pesquisadores do que existia nessa época.
E mais do que isso: programas de pós-graduação em ciência e tecnologia no Brasil exigem dedicação exclusiva, o que significa que os pesquisadores não podem buscar fontes alternativas de renda sem quebrar as leis do país. As bolsas não são apenas ajuda de custo: Cortá-las equivale a demitir um funcionário de uma fábrica.
Quais estão sendo os impactos na ciência brasileira?
Ainda assim, os cientistas brasileiros não têm feito corpo mole. O país foi ranqueado a 11ª nação do mundo que mais contribuiu com a produção de conhecimento para combate à pandemia de COVID-19 em 2020, e em 2021 subiu 5 posições no ranking de inovação global da WIPO, por exemplo.
Estes pesquisadores têm trabalhado somente porque amam aquilo que fazem. E assim como a maior parte dos trabalhadores brasileiros, seu mérito não está sendo recompensado pela nação. Sem perspectivas de melhora, cientistas estão ou abandonando sua carreira acadêmica ou deixando o país para trabalhar em outros lugares - principalmente na Europa ou nos Estados Unidos.
Esta forte tendência de imigração para outros países tem aumentado vertiginosamente nos últimos 5 anos e está sendo chamada coloquialmente de “diáspora de cientistas”. Cada vez mais, pesquisadores brasileiros estão deixando o país pra assumir vagas de pesquisa mais justas em outros continentes.
O ministro Marcos Pontes, do MCTI, reconheceu que a “fuga de cérebros” do país é um problema grave e tem reforçado, em várias circunstâncias, que pretende ampliar a oferta de bolsas de pesquisa em universidades e empresas. No entanto, ações dizem mais do que palavras - E, até o momento, nenhuma ação do governo tem indicado que a situação vai melhorar.
Se o escape continuar, corremos o risco de perder ou alienar uma geração inteira de novos cientistas que deveriam estar surgindo.