Cientistas com medo: em breve, o gelo da Groenlândia nunca mais retornará

Pesquisadores descobriram que grande parte do manto de gelo da Groenlândia derreterá de maneira irreversível se atingirmos uma emissão de aproximadamente 1000 gigatoneladas de carbono.

Em breve, o gelo da Groenlândia nunca mais retornará
O manto de gelo da Groenlândia derreterá de maneira irreversível se atingirmos uma emissão de aproximadamente 1000 gigatoneladas de carbono.

A camada de gelo da Groenlândia cobre uma área gigantesca de 1,7 milhão de quilômetros quadrados no Ártico, e representa um dos maiores riscos globais das próximas décadas. Acontece que o derretimento de todo este gelo resultaria em um aumento de 7 metros no nível global dos oceanos, capaz de dizimar praticamente todas as cidades próximas do litoral.

Os cientistas ainda não têm certeza da rapidez com a qual essa camada de gelo pode derreter, mas uma nova pesquisa do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático (PIK) descobriu algo preocupante: Já estamos a meio caminho do ponto de não-retorno.

Como descobriram que a camada de gelo da Groenlândia está prestes a ser comprometida?

A camada de gelo da Groenlândia já está derretendo. Sabemos disso porque um monitoramento constante desde 2003 mostra que a região tem perdido cerca de 255 bilhões de toneladas de gelo todo ano. Apesar de ser uma quantidade gigantesca, felizmente a maior parte do derretimento ocorreu somente na porção sul.

Lá, a temperatura do ar e da água, as correntes oceânicas, a precipitação e vários outros fatores têm determinado a rapidez com que a camada de gelo derrete. A complexidade da interação entre esses fatores torna difícil prever como a camada de gelo responderá a diferentes cenários climáticos.

Para tentar mitigar o problema, este novo estudo da PIK usou pela primeira vez um modelo computacional complexo que inclui todos os principais processos de feedback climático, emparelhados com um modelo de comportamento da camada de gelo.

A influência humana já está sendo sentida na Groenlândia. Se emitirmos mais 500 gigatoneladas de carbono, a região chegará ao ponto de não-retorno - o gelo derretido nunca retornará.

A partir dessas simulações, os cientistas utilizaram uma modelagem de pontos de inflexão, limites críticos onde um sistema muda de maneira irreversível. Foram descobertos dois pontos de inflexão: Um para a emissão de 1000 gigatoneladas de carbono, e outro para 2500 gigatoneladas.

Isso significa que, quando atingirmos a emissão de 1000 gigatoneladas de carbono, a porção sul da camada de gelo estará comprometida para sempre e nunca mais se recuperará. Se atingirmos 2500 gigatons, a camada inteira desaparecerá para sempre.

O primeiro ponto de inflexão não está longe das condições climáticas atuais, então corremos o risco de atravessá-lo - Dennis Höning, PIK.

Outro jeito de entender isso é que, à medida que a camada de gelo derrete, sua superfície passa para elevações mais baixas, expostas a temperaturas de ar mais quentes, que por sua vez aceleram o derretimento. Uma vez que o gelo cruze determinado limiar, ele nunca mais vai parar de derreter, mesmo que os gases poluentes sejam reduzidos a níveis pré-industriais.

Tendo já emitido cerca de 500 gigatoneladas de carbono, estamos na metade do caminho para o primeiro ponto de inflexão. E no ritmo em que o mundo se encontra, os millenials serão capazes de ver em vida a camada de gelo da Groenlândia comprometida para sempre. Agir é urgente.