Cientistas de Yale explicam quando e por que os mosquitos picam

Por que alguns de nós somos o banquete preferido dos mosquitos e outros passam despercebidos? Pesquisadores da Universidade Yale trazem a resposta dessa pergunta.

criança
Este estudo pode melhorar a eficácia dos repelentes.

Com uma série de experimentos, os cientistas descobriram como os mosquitos “escolhem” suas vítimas e por que alguns de nós são mais 'palatáveis' do que outros. Esta descoberta, publicada na revista Nature, poderá revolucionar a forma como combatemos estes insetos irritantes. Os pesquisadores também identificaram os compostos do nosso suor que atraem os mosquitos, bem como aqueles que os repelem. Poderíamos pensar em um futuro sem picadas de mosquitos?

Para entender melhor o paladar dos mosquitos, os cientistas submeteram esses insetos a um teste de degustação com 46 sabores diferentes, do doce ao amargo. Os resultados foram surpreendentes: alguns sabores, como o açúcar, ativaram os neurônios gustativos dos mosquitos, enquanto outros sabores, como o amargo, em vez de excitá-los, os acalmaram.

“Ter essas duas respostas diferentes (excitação e inibição) dá aos mosquitos uma capacidade expandida de codificar o sabor, o que significa que eles provavelmente podem diferenciar uma ampla variedade de sabores”, explicou John R. Carlson, professor na Universidade Yale e coautor do estudo.

Por que eles escolhem apenas algumas pessoas para picar?

Quando os pesquisadores ofereceram aos mosquitos amostras de suor humano, notaram que esses insetos mostravam uma clara preferência por algumas amostras em comparação com outras.

Existem muitos lugares na natureza que possuem sal e muitos lugares que possuem aminoácidos, mas os humanos os têm juntos na pele. Então, talvez o mosquito consiga identificar a combinação e reconhecer a nossa pele como um bom local para picar.

Os cientistas observaram que diferentes sabores influenciavam as ações dos mosquitos, como picar, alimentar-se e botar ovos. Eles descobriram que cada sabor tinha um efeito único. Por exemplo, os sabores amargos reduziram o apetite dos mosquitos, mas não os impediram de se reproduzir. Por outro lado, o sal e certos componentes do nosso suor, por si só, não causavam mais coceira, mas juntos criavam uma combinação irresistível para a picada.

“E essa nuance faz sentido para nós”, disse a autora principal do estudo Lisa Baik. “Existem muitos lugares na natureza que têm sal e muitos lugares que têm aminoácidos, mas os humanos os têm juntos na pele. Então, talvez o mosquito consiga identificar a combinação e reconhecer a nossa pele como um bom local para picar”.

Adeus às picadas?

A conclusão deste estudo foi que os mosquitos têm um sabor muito seletivo. Eles conseguem distinguir entre muitos sabores, e esses sabores influenciam a decisão de se alimentar ou não. Alguns sabores os atraem, enquanto outros os repelem. Isto é fundamental para entender melhor por que somos mordidos e ajudará a desenvolver repelentes melhores.

criança com picadas de mosquito
Os mosquitos têm um sabor seletivo.

O experimento conseguiu identificar certos compostos amargos que suprimem as respostas fisiológicas e comportamentais ao açúcar, o que os posiciona como sinais eficazes para interromper os estímulos que incitam a picada. Eles também determinaram quais são os principais estimulantes gustativos da pele e do suor humanos que, quando combinados, aumentam a tendência de picada dos mosquitos.

Sinais complexos, como suor humano, néctar e água nos locais de postura dos ovos, geram padrões de resposta únicos nos neurônios.

“Nosso estudo pode ser útil na identificação de compostos que nos protegem das picadas de mosquitos de uma nova maneira”, disse Carlson. “Tais compostos podem ser extremamente úteis, especialmente porque as mudanças climáticas expandem o alcance dos mosquitos e das doenças que eles transmitem”, disse.

Referência da notícia:

Baik, L. S. et al. Mosquito taste responses to human and floral cues guide biting and feeding. Nature, 2024.