Cientistas estão tentando desenvolver café climaticamente inteligente para substituir o Arábica
Até 2050, 80% da produção de café arábica diminuirá devido às mudanças climáticas. Encontrar cultivares alternativas para substituí-lo ao longo dos próximos anos é o maior desafio da indústria cafeeira.
Globalmente, mais de 2,2 bilhões de xícaras de café são consumidos diariamente. Obviamente, alguém precisa cultivar essa quantidade exorbitante de café: Existem, hoje, mais de 100 milhões de agricultores em todo o mundo produzindo o grão.
O café que é consumido hoje em dia deriva de duas espécies principais: Coffea Arabica, o famoso café arábica; e Coffea Canephora, também conhecido como café robusta ou conilon. Historicamente, os consumidores de café preferem os grãos Arábica pelo seu sabor e aroma mais agradáveis.
Graças à esse declínio do Arábica esperado ao longo das próximas décadas, pesquisadores da França (RD2 Vision) e do Brasil (Instituto Incaper) estão conduzindo pesquisas para tentar encontrar alternativas capazes de substituir o café arábica.
Variedades de Café Robusta podem ser a resposta para lidar com o aquecimento global
Atualmente, há duas alternativas principais: Primeiro, adaptar as práticas de cultivo do café a novos ambientes; E segundo, concentrar-se em espécies mais resilientes do que o Arábica, como o próprio café Robusta. Num geral, o Robusta produz mais frutos que o Arábica, e utiliza menos insumos como fertilizante e água. Como o próprio nome sugere, a planta é mais robusta.
Para tentar encontrar respostas, os pesquisadores exploraram diferentes culturas de Robusta/Conilon e Arábica em três locais de grande altitude no Brasil. O estudo levou cinco anos e analisou múltiplas características das plantas, tentando descobrir se as cultivares poderiam ter um bom rendimento quando produzidas em climas alternativos e se manteriam um sabor agradável.
Com isso, os pesquisadores descobriram que algumas variedades do café Robusta são sim capazes de unir três características principais necessárias para enfrentar as mudanças climáticas:
- Sustentabilidade – Produzir mais com menos insumos.
- Qualidade – Bom sabor para atender à demanda do consumidor.
- Plasticidade – Capacidade de adaptação a novos sistemas de produção.
Agora que encontraram bons resultados com o Robusta no Brasil, os cientistas estão tentando ver se também conseguem obter bons resultados na Flórida. Quando comparada ao Brasil, as diferenças nas propriedades do solo, na distribuição das chuvas e na temperatura certamente podem influenciar o café, gerando resultados diferentes.
Além da produção convencional, os pesquisadores também estão estudando café de produção interna usando estruturas de túneis altos. Essa será a primeira vez que um conjunto tão diversificado de cafés será testado e estudado sob as condições climáticas da Flórida.
Referência da notícia:
Maria Amélia G. Ferrão, Elaine M. Riva‐Souza, Camila Azevedo, Paulo S. Volpi, Aymbiré F. A. Fonseca, Romario G. Ferrão, Christopher Montagnon, Luis Felipe V. Ferrão. Robust and smart: Inference on phenotypic plasticity of Coffea canephora reveals adaptation to alternative environments. Crop Science, 2024