Clima do inverno pode estar prejudicando o isolamento social

Com o desenvolvimento ininterrupto da pandemia de Covid-19 - Hoje intitulada oficialmente de SARS-CoV-2, ou Síndrome Respiratória Aguda Grave 2 - as tentativas de quarentena no Brasil e no mundo tem se estendido por meses, fazendo com que as pessoas se encontrem numa situação de isolamento social extremamente longo.

Após tantos meses, a tendência tem sido de relaxamento nas medidas de controle e isolamento, mesmo em lugares onde a situação não está sob controle - como Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, onde o número de mortes dobrou nas últimas duas semanas.

De fato, os efeitos psicológicos do isolamento prolongado são uma das grandes razões para o relaxamento das medidas, mas o que muitas pessoas não percebem é que o clima também pode estar desempenhando um papel importante neste cenário.

O clima pode afetar nossa saúde física?

Sim, o clima pode afetar tanto nossa saúde física quanto a saúde psicológica. Nas últimas semanas, o clima brasileiro tem sido bastante seco. Órgãos brasileiros como o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) tem emitido alertas regulares sobre a baixa umidade relativa.

Alguns efeitos adversos do ar muito seco incluem o aumento na intensidade de doenças respiratórias e alergias, além do ressecamento e inflamação das mucosas.

Este cenário é péssimo, diga-se de passagem, para quem acabar contraindo o Covid-19. Algumas publicações recentes têm inclusive associado a baixa umidade relativa a um aumento no número de mortes por Covid-19 em determinadas regiões.

E a nossa saúde mental?

A umidade relativa do ar, a temperatura e a duração da luz do sol também afetam diretamente nosso humor. Em uma situação de isolamento social, onde muitas pessoas começaram a relatar problemas psicológicos, estes efeitos podem trazer impactos ainda maiores.

Existem pesquisas que apontam, por exemplo, que um clima chuvoso pode reduzir pela metade o número de casos clínicos registrados de ansiedade e ataques de pânico.

Isso significa que um clima mais seco, como o que estamos vivenciando no Brasil nestas últimas semanas, pode tornar as pessoas mais suscetíveis a crises de ansiedade e pânico, intensificando ainda mais os problemas causados pelo isolamento social.

Além disso, durante a entrada de frentes frias especialmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, é comum que ocorram ondas de frio, especialmente nesta época do ano. Há estudos que indicam que quedas na temperatura também pode aumentar os índices de ansiedade na população.

Este conjunto de fatores climáticos e seus impactos psicológicos pode estar desempenhando um papel muito importante para que as pessoas se tornem cada vez mais favoráveis à flexibilização do isolamento social.

E os efeitos positivos do clima?

Vale lembrar, no entanto, que o clima neste inverno tem sido, em média, mais quente que o normal, o que não só deve contrabalancear o efeito das ondas de frio, como também pode ajudar a conter o espalhamento da vírus. De acordo com alguns artigos científicos publicados recentemente, temperaturas mais altas dificultam a transmissão do Covid-19.

Além disso, a baixa umidade relativa também ajuda a aumentar a concentração e a disposição das pessoas quando comparada a dias ou locais com níveis maiores de umidade no ar, o que pode ser altamente benéfico para quem está trabalhando de casa.

Isto significa que nem todos os efeitos do clima de inverno são negativos.

A pandemia ainda é muito recente e os cientistas estão em um processo contínuo de aprendizado. A única maneira de enfrentar este cenário de frente é continuar se informando e entendendo os impactos da meteorologia na saúde - além, claro, de se prevenir sempre.

Com ou sem medidas de isolamento social, continue utilizando máscaras, lave bem as mãos e evite aglomerações de pessoas.