Clima e Saúde: Como a meteorologia ajudará a prever a próxima pandemia
O sistema de previsão meteorológica, construído ao longo de décadas, abrange uma coleta de dados mundial e sistemas refinados de modelagem e previsão. Agora, pesquisadores pensam em fazer o mesmo na saúde para evitar que a próxima pandemia seja um desastre.
A pandemia Covid-19 impôs um desafio sem precedentes à nossa sociedade. Ficou claro, nestes últimos dois anos, que o controle e a previsão de uma pandemia são aspectos cruciais que falhamos em realizar de uma maneira eficiente. E ainda estamos pagando um preço caro por isso.
A previsão do impacto de uma pandemia, particularmente, é responsável pelas formulações de políticas e decisões governamentais - e foi um aspecto que se mostrou completamente falho. Agora, um artigo propõe uma maneira de melhorar a previsão utilizando os conhecimentos que a meteorologia acumulou nos últimos anos.
Isso acontece porque o clima afeta quase todas as atividades humanas e, portanto, o esforço de prever seus impactos ao longo das últimas décadas culminou, hoje, em um sistema global exemplar. Somos capazes de gerenciar riscos meteorológicos graças à ampla disponibilidade de dados de alta qualidade e previsões precisas e confiáveis.
Como a meteorologia pode ajudar a prever a próxima pandemia?
Assim como o clima, a saúde também afeta todas as atividades humanas. Se houvesse no mundo um sistema de saúde equivalente à infraestrutura meteorológica, apoiado por sistemas de previsão realistas e confiáveis, decisões melhores e mais informadas poderiam ter sido tomadas ao longo da pandemia.
Quem tentou usar dados para monitorar a propagação da epidemia de COVID-19 em diferentes partes do mundo percebeu que, muitas vezes, a mesma variável era medida de maneira diferente em cada país. Isso torna incerta a comparação e impossibilita analisar se as medidas de controle e prevenção tomadas em um país poderiam surtir efeito em outro.
O artigo levanta a necessidade, portanto, de se estabelecer no mundo um Centro de Previsão de Saúde, com a missão de auxiliar no gerenciamento de riscos em um escopo global. o Centro deveria se focar em quatro processos-chave:
- Identificar variáveis relevantes, definir padrões de medição, e coletá-las continuamente, em tempo real.
- Interpretar os dados, entender como diferentes componentes do sistema interagem e como fenômenos de escala local ou global podem afetar sua dinâmica.
- Estimar e prever como o estado atual do sistema irá evoluir, refinando o processo ao longo do tempo.
- Diagnosticar e verificar os resultados, para entender se o modelo é capaz de reproduzir realisticamente a dinâmica do sistema, deixando as métricas de acurácia sempre disponíveis e transparentes.
Desta maneira o Centro será capaz de monitorar o estado de saúde mundial; produzir previsões globais; realizar pesquisas científicas e técnicas para aprimorar o processo; coordenar e promover o compartilhamento de dados e conhecimento; e apoiar a formação e a partilha de conhecimentos em benefício da tomada de decisões.
Embora saúde e meteorologia sejam completamente diferentes, a infra-estrutura meteorológica global já faz tudo isso, e em tempo real. Construir um sistema similar focado na saúde será um desafio, claro. Mas a meteorologia já nos ensinou como fazer. Falta só agir, de preferência antes da próxima pandemia.