Como o impacto de um cometa mudou o clima da Terra: rochas trazem evidências sobre o ocorrido

O clima da Terra já foi alterado diversas vezes e ainda continua em alteração, cientistas buscam evidências sobre como o impacto de um cometa mudou o clima.

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Grãos de quartzo de impacto, com fissuras preenchidas com vidro fundido. [Imagem: Christopher R. Moore et al. - 10.14293/ACI.2024.0003]

Você provavelmente já viu muitos filmes e ouviu histórias sobre a Terra sendo atingida por cometas, as vezes o resultado vinha em forma de eventos extremos como terremotos, tsunamis e outros impactos climáticos. O fato é que se um cometa atinge a Terra, o clima tende a mudar.

Isso não é apenas história cinematográfica, e geólogos trabalham bastante para encontrar cada vez mais evidências de que o clima da Terra mudou. Recentemente, os cientistas obtiveram mais uma observação importante que alimenta a hipótese do impacto do cometa.

Em resumo, existe uma ideia sobre esse cometa que colidiu com a atmosfera da Terra há cerca de 12.800 anos atrás, o que resultou em uma mudança climática em escala global muito significativa. Geólogos apontam que houve uma inversão da tendência de aquecimento da Terra para um período quase glacial anômalo que levou o nome de Dryas Recente.

Dryas e seu significado

Houve não só Dryas Recente como também o Dryas Antigo, o nome vem de uma planta dríade-branca (Dryas octopetala). Os eventos foram batizados com esse nome devido à enorme quantidade de pólen dessa planta que foi encontrada em amostras de solo daquele período.

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Dryas octopetala que era comum em épocas mais frias há milhares de aons atrás.

Antigamente, em períodos mais frios, essa dríade-branca era muito mais comum de ser encontrada do que hoje. Certo, mas hoje em dia, será que essas plantas ainda são encontradas? Como vieram as evidências desse período quase glacial?

Segundo o professor James Kennett e seus colegas da Universidade da Califórnia de Santa Bárbara, foram encontradas não essas plantas antigas, mas sim rochas associadas à explosão aérea ocorrida quando o então cometa entrou em nossa atmosfera. Kennett disse que essas evidências estão distribuídas por vários locais distintos no leste dos Estados Unidos como Nova Jersey, Maryland e Carolina do Sul.

O geólogo completou que essas amostras que foram encontradas são rochas que contém assinaturas bastante indicativas da força e da temperatura envolvidas na explosão, incluindo platina, microesférulas, vidro fundido e quartzo fraturado por choque.

O que descobrimos é que as pressões e temperaturas não eram características de grandes impactos formadores de crateras, mas eram consistentes com as chamadas explosões aéreas de 'aterragem', que não se formam muito no modo de crateras, disse Kennett.

Foi estimado através dos estudos que o cometa responsável pelo episódio de resfriamento do Dryas Recente tinha 100 quilômetros de diâmetro, ou seja, muito maior que o objeto que explodiu acima de Tunguska, na Rússia, em 1908, e fragmentou-se em milhares de pedaços.

A camada de sedimentos associada à explosão aérea estende-se por grande parte do hemisfério norte, mas também pode ser encontrada em locais ao sul do equador, o que reforça a ideia de que foi um evento extraordinário e muito grande, o que com certeza teve poder de alterar o clima da Terra.

Quartzo de impacto e sílica amorfa

A equipe de Kennett está particularmente interessada na presença de quartzo de impacto, que é caracterizado por um padrão de linhas ou lamelas, que segundo eles, revela ter sofrido tensões suficientemente grandes para deformar a estrutura cristalina tradicional do quartzo, que é um material muito duro.

O que descobrimos - e isso é o que é característico da camada de impacto, chamada de Limite do Dryas Recente - é que, embora ocasionalmente vejamos nos grãos de quartzo exemplos do quartzo de impacto 'tradicional', com fraturas paralelas, vemos principalmente grãos que não são paralelos.

Segundo os pesquisadores, é notório que as fraturas geradas pela explosão aérea ocorrem em um padrão bastante irregular, até semelhante a uma teia de aranha, com linhas sinuosas intercruzadas e fissuras superficiais e de subsuperfície, em contraste com as deformações paralelas e planares do quartzo de impacto encontrado nas crateras.

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As evidências estão largamente disseminadas pela América do Norte. [Imagem: Christopher R. Moore et al. - 10.14293/ACI.2024.0003]

Para eles, essas deformações subparalelas e subplanares se formam em grande parte pelas pressões relativamente mais baixas causadas pelas explosões que ocorrem acima do solo.

Existe ainda uma semelhança entre esses sedimentos e o quartzo de impacto das crateras: a presença de sílica amorfa, ou o que chamamos de vidro derretido, dentro dessas fraturas. E isso, dizem os pesquisadores, é evidência da combinação de pressão e altas temperaturas (superiores a 2.000 graus Celsius) que devem se originar de uma explosão aérea de um bólido em baixa altitude.

Texto de referência: Inovação Tecnológica: Rochas reforçam evidências de impacto de cometa que mudou o clima da Terra.