Como o Saara afeta o clima na Amazônia?
Estudos mostram que, apesar da distância de mais de 5 mil km que separam o deserto do Saara da floresta amazônica, o deserto do Saara ajuda no crescimento da vegetação da floresta e na formação de chuva na região.
Aproximadamente 5,3 mil km separam a maior floresta tropical do planeta, a floresta amazônica, do grande deserto do Saara, uma das regiões mais quentes e secas do mundo. Então, como dois ambientes de características tão opostas e tão distantes entre si podem apresentar algum tipo de ligação?
A resposta está na circulação atmosférica, ou melhor dizendo, nos ventos! Em 2015, medidas feitas por satélites da NASA mostraram que os ventos, principalmente aqueles dos níveis mais altos da atmosfera, são responsáveis pelo transporte de 182 milhões de toneladas de poeira do deserto do Saara para as Américas todos os anos. Cerca de 28 milhões de toneladas dessa poeira – equivalente a 105 mil caminhões carregados de areia- chegam até a floresta amazônica.
Dessas 28 milhões de toneladas de poeira que chegam na Amazônia cientistas estimaram que 22 mil toneladas são de partículas de fósforo, um importante nutriente que atua como fertilizante para o crescimento da floresta amazônica. Apesar da floresta produzir essa mesma quantidade de fósforo através da decomposição da vegetação, quase todo fósforo produzido é perdido devido as chuvas e inundações.
Mas por que a poeira vinda do Saara possui tanto fósforo? Porque algumas regiões do deserto do Saara, como a depressão de Bodélé, são antigos leitos de lagos, que agora estão secos e possuem um solo rico em nutrientes provenientes da decomposição da antiga fauna e flora marinha.
Essas regiões são constantemente atingidas por intensas tempestades de areia, que se encarregam de levantar essa poeira para níveis mais altos da atmosfera e então transporta-la para o outro lado do oceano Atlântico, atingindo a floresta amazônica.
A poeira do Saara na formação de chuva na Amazônia
Em um estudo mais recente, pesquisadores do Brasil, Estados Unidos e Alemanha, descobriram que a poeira do deserto do Saara também ajuda na formação de nuvens de chuva sobre a Amazônia. Isso ocorre porque essas partículas de poeira, também chamadas de aerossóis, atuam como núcleos de condensação de nuvens.
Os núcleos de condensação de nuvens servem como superfície para a condensação do vapor da água presente no ar, gerando pequenas gotículas de água que formam as nuvens. Essas gotículas, por sua vez, capturam e se unem a outras gotículas, formando gotas maiores que caem em forma de chuva.
Em uma atmosfera limpa, livre de poeira ou outros aerossóis, a condensação do vapor de água é muito improvável, exceto sob condições de supersaturação (umidade relativa acima de 100%). Porém, essa condição não ocorre na atmosfera real, o que faz dos aerossóis os principais responsáveis pela condensação e formação das gotículas de água das nuvens.
Poeira do Saara em outras partes do mundo
Assim como os ventos transportam a poeira do deserto do Saara para a Amazônia, eles também transportam essa poeira para outras regiões do globo, impactando essas regiões de diferentes formas. Como o fenômeno apelidado de ‘neve laranja’ observado no último mês em países do leste europeu e na Rússia.
Esse fenômeno é causado pela mistura da areia vinda do deserto do Saara, transportada sobre o mar Mediterrâneo pelos ventos, com a neve e chuva, fazendo com que a paisagem das montanhas de neve adquira um tom alaranjado, semelhante as dunas dos desertos.