Descoberta de um enorme buraco negro é comparada com o momento em que “Neo vê a Matrix”
A descoberta de um buraco negro adormecido com uma massa 33 vezes superior à do nosso Sol oferece novas pistas sobre como se formam esses buracos negros massivos.
A Missão Gaia da Agência Espacial Europeia (ESA) descobriu um buraco negro com uma massa 33 vezes maior que a do nosso Sol, a apenas 2.000 anos-luz da Terra. Os cientistas do Grupo de Trabalho de Buracos Negros de Gaia compararam a descoberta do buraco negro com a visão de Neo na Matrix (no filme), já que sua presença está escondida em uma população de buracos negros estelares adormecidos.
Gaia BH3 é o maior buraco negro da nossa galáxia até hoje, que se formou a partir da explosão de uma estrela e está adormecido. A maioria dos buracos negros ativos consome matéria de um companheiro próximo, mas Gaia BH3 não tem um companheiro próximo o suficiente para roubar matéria dele e não gera luz. A sua presença foi deduzida dos movimentos do que inicialmente parecia ser uma estrela solitária, mas agora é entendida como companheira do buraco negro, ligada gravitacionalmente ao buraco negro e orbitando em torno de um ponto comum.
Unicórnio ou Matrix?
Existem cerca de 50 buracos negros confirmados ou suspeitos na nossa galáxia, o maior dos quais é o buraco negro supermassivo situado no centro da nossa galáxia. Mas acredita-se que exista uma população oculta de milhares - até milhões - de buracos negros, dado o número de estrelas que provavelmente morreram durante a vida da nossa galáxia.
En nuestro caso, 'la matriz' es la población de agujeros negros estelares latentes de nuestra galaxia, que estaban ocultos para nosotros antes de que Gaia los detectara", afirma el Dr. George Seabroke, del Laboratorio de Ciencias Espaciales Mullard de la UCL y miembro del Grupo de Trabajo sobre Agujeros Negros de Gaia.
"Gaia BH3 é uma pista importante para esta população porque é o buraco negro estelar mais massivo encontrado na nossa galáxia. Espera-se que a próxima publicação de dados do Gaia contenha muito mais informações, o que deve nos ajudar a “ver” mais da "matriz” e a entender como se formam os buracos negros estelares adormecidos", afirmam os cientistas.
O Dr. Pasquale Panuzzo, do Instituto CNRS no Observatório de Paris, prefere outra analogia: “É um autêntico unicórnio. É o tipo de descoberta que se faz uma vez na vida”. Até agora, buracos negros deste tamanho só tinham sido detectados em galáxias distantes, pela colaboração LIGO-Virgo-KAGRA, graças a observações de ondas gravitacionais.
Pistas para a formação
A descoberta de Gaia também oferece uma pista sobre como se formam esses buracos negros massivos. O conhecimento atual sobre como as estrelas massivas evoluem e morrem não explica como estes tipos de buracos negros surgiram.
A estrela que orbita Gaia BH3 tem poucos elementos mais pesados que o hidrogênio e o hélio, sugerindo que a estrela massiva que se tornou Gaia BH3 também poderia ter sido muito pobre em elementos pesados. Esta estrela está localizada a cerca de 16 vezes a distância Sol-Terra e é bastante incomum: é uma antiga estrela gigante que se formou nos primeiros 2 bilhões de anos após o Big Bang, quando a galáxia começou a se formar.
A estrela pertence à família do halo estelar galáctico e se move na direção oposta às estrelas do disco galáctico. A sua trajetória sugere que esta estrela provavelmente fazia parte de uma pequena galáxia, ou aglomerado globular, engolida pela nossa galáxia há mais de 8 bilhões de anos.
Referência da notícia:
Panuzzo, P. et al. Discovery of a dormant 33 solar-mass black hole in pre-release Gaia Astrometry. Astronomy & Astrophysics, 2024.