Descoberta chocante: o clima teve um papel importante na migração humana da África?
Há cerca de 6 milhões de anos, nas florestas da África, aconteceu algo espetacular. Os chimpanzés evoluíram em uma direção, enquanto nossos ancestrais seguiram em outra.
Há cerca de 2,1 milhões de anos, os primeiros humanos, o Homo erectus, emigraram da África. Na viagem cruzaram o nordeste do continente e áreas que hoje são cobertas por desertos. Depois chegaram à Europa e à Ásia.
Os pesquisadores há muito especulam sobre como o Homo erectus foi capaz de atravessar o deserto seco e implacável, onde não havia comida, água ou sombra. Para aprofundar esta questão, um estudo publicado na revista Communications Earth & Environment, e citado pelo site Phys.org, sugere que é possível que o Homo erectus não tenha caminhado pelo deserto quando saiu da África.
"Os nossos resultados mostram que o Saara, precisamente no período em que o primeiro Homo erectus migrou, era mais verde do que em qualquer outro momento dentro dos 4,5 milhões de anos que estudamos. Portanto, é mais provável que puderam caminhar através de um corredor verde fora da África", mencionou Lupien.
O Saara como o conhecemos hoje está passando por um de seus períodos de seca. A duração desse período varia, mas acredita-se que a cada 20 mil anos o continente passa por um ciclo completo com intervalo chuvoso e seco. Os anos chuvosos são o que Lupien chamou de “períodos chuvosos africanos”.
Evolução do clima e da migração humana ao redor do mundo
"O grau de umidade dos períodos verdes úmidos varia, de fato há outros dois ciclos que também entram em jogo. Um dura 100.000 anos e o outro 400.000 anos. Ao longo de 100.000 anos, os períodos úmidos irão variar e se tornar mais úmidos ou mais secos do que o normal. A mesma coisa acontece a cada 400.000 anos", afirmou Lupien.
Mas como podemos realmente saber como era o clima na África há várias centenas de milhares de anos? O fundo do mar pode nos dizer, pois por esse motivo muito se sabe sobre o clima do passado.
"Utilizando amostras do Mediterrâneo, podemos ver como era o clima há milhões de anos. Camadas de sedimentos se formam no fundo do mar, e as pequenas moléculas nessas camadas podem nos dizer muito sobre como era o clima no passado", disse Lupien.
Com o tempo, novas camadas formam-se no fundo do mar com material soprado do norte da África para o mar, onde desce lentamente. O fundo marinho enterrado funciona como uma espécie de "diário de bordo" que revela o que aconteceu há centenas de milhares de anos.
Flutuações astronômicas que influenciam os períodos úmidos
Os períodos verdes em África ocorrem, como as eras glaciais nas latitudes setentrionais, devido a pequenas variações na órbita da Terra em torno do Sol, que desempenham um papel muito importante quando o Saara recebe mais precipitação.
“A Terra oscila um pouco na sua órbita em torno do Sol e é esta oscilação que cria flutuações climáticas a cada 21 mil anos e provoca o ‘período úmido africano’. A outra causa das flutuações é o formato da órbita da Terra em torno do Sol, já que em alguns períodos a órbita é mais elíptica e em outros mais redonda, causando flutuações com intervalo entre 100.000 e 400.000 anos", conclui Lupien.
Referência da notícia:
LUPIEN, R. et al. Low-frequency orbital variations controlled climatic and environmental cycles, amplitudes, and trends in northeast Africa during the Plio-Pleistocene. Communications Earth & Environment, v. 4, 2023.