Descoberto que o núcleo do nosso planeta possivelmente é "um planeta dentro da Terra"
Estudo usou dados sísmicos e descobriu que o núcleo da Terra possui uma variedade de texturas. Os dados cobrem os últimos 27 anos de uma rede de sismômetros estabelecida para se fazer cumprir o tratado de proibição de testes nucleares.
Sem o núcleo do nosso planeta, simplesmente não teríamos o campo magnético protetor, e a vida aqui seria muito diferente. Por muitos anos, os cientistas ficaram curiosos sobre esse núcleo interno, querendo entender como ele se formou e se transformou durante todo esse tempo.
Graças a todas essas perguntas, uma equipe de pesquisadores, liderada pela Universidade de Utah e apoiada pela Fundação Nacional de Ciências dos EUA, decidiu se aprofundar no assunto. Usando ferramentas especiais, eles começaram a ouvir, monitorar e analisar os estrondos ou ondas sísmicas dos terremotos para entender o que há dentro do nosso planeta.
Por muito tempo, muitas pessoas acreditaram que o núcleo era uma bola sólida e uniforme. Mas a pesquisa recente do geólogo especializado Guanning Pang e de sua equipe da Universidade de Cornell, o compararam a um papel de parede extenso com diferentes texturas e formas, deixando de lado a visão de uma bola metálica perfeita de nosso núcleo.
O estudo recente de Pang na revista científica Nature mostra que o núcleo não é o mesmo em todos os lugares. Keith Koper, da Universidade de Utah, que desempenhou um papel importante neste estudo, disse que está tentando examinar mais de perto esse núcleo. Ele comparou o esforço a tirar uma foto de algo profundo e oculto. "É um trabalho complicado, mas eles estão progredindo", disse em uma entrevista.
A voz do planeta nos dá uma ideia de sua origem!
Depois que alguns países decidiram proibir as explosões nucleares, as Nações Unidas criaram um sistema especial em 1996. Esse sistema possui ferramentas em todo o mundo para detectar se alguém está fazendo um teste nuclear. Mas essas ferramentas também capturam outros sons e movimentos.
Sua peça central é o Sistema de Monitoramento Internacional (IMS), que apresenta quatro sistemas para detectar explosões usando instrumentos de detecção avançados localizados em todo o mundo. Embora seu objetivo seja impor uma proibição internacional de detonações nucleares, os instrumentos também produziram uma riqueza de dados que os cientistas podem usar para tentar descobrir o que está acontecendo no interior da Terra, nos oceanos e na atmosfera.
Embora a superfície da Terra tenha sido completamente mapeada e caracterizada, seu interior é muito mais difícil de estudar, pois não é diretamente acessível. As melhores ferramentas para detectar esse reino oculto são as ondas sísmicas dos terremotos que se propagam da fina crosta do planeta, vibrando através de seu manto rochoso e núcleo metálico.
Planeta dentro de um planeta
Nos últimos anos, o laboratório de Koper vem analisando a sensibilidade dos dados sísmicos ao núcleo interno. Um estudo anterior, liderado por Pang, identificou variações entre as rotações da Terra e seu núcleo interno que podem ter causado uma mudança na duração do dia entre 2001 e 2003.
"É como um planeta dentro de um planeta que tem sua própria rotação e está desacoplado por este grande oceano de ferro fundido", disse Koper, professor de geologia que dirige as Estações Sismográficas.
"O campo protetor de energia magnética que envolve a Terra é criado pela convecção que ocorre dentro do núcleo externo líquido, que se estende 2.260 quilômetros acima do núcleo sólido", acrescentou ele. O metal fundido eleva-se acima do núcleo interno sólido, esfria à medida que se aproxima do manto rochoso da Terra e afunda. Essa circulação gera as bandas de elétrons que cercam e protegem o planeta.
Para o novo estudo, a equipe analisou dados sísmicos registrados por 20 conjuntos de sismômetros colocados ao redor do mundo, incluindo dois na Antártica. Esses instrumentos são inseridos em furos de até 10 metros em formações de granito e são dispostos em padrões para focalizar os sinais que recebem, de maneira semelhante ao funcionamento das antenas parabólicas.
Pang analisou ondas sísmicas de 2.455 terremotos, todos com magnitude superior a 5,7. A maneira como essas ondas refletem no núcleo interno ajuda a mapear sua estrutura interna. Terremotos menores não geram ondas fortes o suficiente para serem úteis para estudo.
Uma das conclusões mais importantes: o núcleo está mudando
Os cientistas usaram ondas sísmicas pela primeira vez para determinar que o núcleo interno era sólido em 1936. Antes da descoberta pelo sismólogo dinamarquês Inge Lehmann, todo o núcleo era considerado líquido, pois é extremamente quente, aproximando-se de 5.537 graus Celsius, que é aproximadamente a temperatura na superfície do Sol.
Em algum momento da história da Terra, o núcleo interno começou a "nuclear", ou solidificar, sob as intensas pressões no centro do planeta. Não se sabe quando esse processo começou, mas a equipe obteve pistas importantes dos dados sísmicos, que revelaram um efeito de dispersão associado a ondas que penetram profundamente no núcleo.
"Achamos que esse tecido está relacionado à rapidez com que o núcleo interno estava crescendo. Há muito tempo, o núcleo interno cresceu muito rápido. Chegou a um equilíbrio e depois começou a crescer muito mais lentamente", disse Koper. "Nem todo o ferro se tornou sólido, então algum ferro líquido poderia ficar preso no interior", complementou ele.