Descubra qual é o segredo que os figos escondem
Apesar de ser popularmente conhecido como uma fruta, o figo é, na verdade, uma flor invertida, que floresceu internamente. Saiba mais aqui.
Um figo não é uma fruta! Na verdade, ele é uma inflorescência invertida. As figueiras não florescem da mesma forma que outras árvores frutíferas, como amendoeiras ou cerejeiras, por exemplo.
Os figos têm uma história muito curiosa. Além de não ser uma fruta, ele precisa de uma vespa para se reproduzir, isto é, um inseto que morre dentro de si.
A relação de mutualismo que existe entre a figueira e a vespa-do-figo é uma das mais fascinantes da natureza. Os dois têm a sua existência entrelaçada, um não pode existir sem o outro. Onde não existe vespas-do-figo, as figueiras não se reproduzem e vice-versa.
O ciclo de reprodução das vespas-do-figo só ocorre no interior dos figos. E estes, ao longo de dezenas de milhões de anos de evolução, acabaram modificados devido à interação com aqueles insetos, que hoje, são confundidos com frutos.
Os figos são invólucros que contêm no seu interior centenas de flores minúsculas que produzem sementes internamente, graças ao trabalho de polinização proporcionado pelas vespas.
Estes insetos transportam o seu material genético e permitem a reprodução. Mas também as vespas não poderiam viver sem figos, pois depositam as larvas dentro do "falso" fruto. Esta relação é conhecida como simbiose ou mutualismo.
A polinização
De um modo geral, a polinização das flores é consequência da procura de alimento pelos animais. Neste caso, a relação figo-vespa é algo mais complexo. Sendo que o figo é o único substrato em que as vespas põem os seus ovos, uma vez dentro dele, os descendentes da vespa “fundadora” colocam o ferrão debaixo do estilete para depositar o ovo.
Enquanto isto, a “fundadora” espalha o pólen que trouxe do figo onde nasceu, fecunda as flores femininas e garante a produção de "frutos" e sementes e, consequentemente, a sobrevivência das figueiras. Terminada a polinização, o figo começa a amadurecer e a mudar de cor. Uma vez alcançada a maturidade, as vespas fêmeas deixam o figo no qual elas se criaram, e saem à procura de figueiras para polinizar.
Devido à sua curta expectativa de vida e à longa jornada para encontrar uma árvore, apenas algumas vespas conseguem polinizar uma figueira. As fêmeas reconhecem uma figueira pronta para a polinização pelo sinal químico que as árvores liberam.
Para alcançar a flor, a vespa precisa entrar pelo poro do figo e alcançar a sua cavidade. Estas vespas são chamadas de “vespas do figo” por serem as únicas capazes de polinizar o "fruto". São da família dos agaonidae.
Apesar desta relação de simbiose ser considerada algo repugnante e talvez soturno, ela é necessária para a sobrevivência de ambas as espécies e para que este ciclo da cadeia alimentar não termine.
Ameaça silenciosa aos polinizadores
Sem polinizadores, a maioria das plantas nativas e das cultivadas que consumimos não sobreviveria. O número de polinizadores está diminuindo em todo o mundo, e este declínio implica uma ameaça à biodiversidade, à saúde e à alimentação humana.
As principais causas deste declínio são o uso indiscriminado de pesticidas e herbicidas, a existência de espécies invasoras, a perda e fragmentação de ambientes naturais e a degradação ambiental.
Estes fatores reduzem tanto o número de espécies de plantas com flor, que são fontes de alimento para os polinizadores, quanto o número de locais disponíveis para reprodução, abrigo e migração dos polinizadores. Mas outra ameaça silenciosa começou a ser observada: as mudanças climáticas.
As mudanças climáticas deverão diminuir consideravelmente o número de locais adequados para a sobrevivência dos polinizadores mais importantes para a manutenção dos ecossistemas naturais.
As Unidades de Conservação, segundo um artigo publicado na revista científica PLoS ONE, serão incapazes de conter esta redução. Locais que satisfaziam as necessidades dos polinizadores começam a tornar-se inabitáveis à medida que a temperatura aumenta e as chuvas tornam-se imprevisíveis. O que a maioria das pessoas não entende é que a perda de polinizadores implica uma perda econômica na agricultura e silvicultura, e causa um desequilíbrio na natureza.
Vários estudos já mostraram a importância da existência de habitat natural dentro de propriedades particulares para garantir e inclusive aumentar a produção agrícola. No entanto, o cumprimento da legislação ambiental sobre a proteção da vegetação nativa é uma questão de segurança alimentar e hídrica, uma vez que a maioria dos polinizadores garantem e aumentam a nossa produção de alimentos.