Desmascarando mitos: os níveis de mercúrio no atum não diminuem há décadas. É seguro consumir?
O atum é um dos grupos de peixes mais consumidos no mundo. Vamos ver o que é verdade sobre os níveis de mercúrio associados a este alimento e o seu perigo.
Os atuns são peixes que frequentam águas médias ou próximas à superfície em águas oceânicas abertas e, portanto, são chamados de peixes pelágicos. Suas migrações podem durar até 60 dias, durante os quais percorrem longas distâncias.
Ao contrário de outros peixes, a carne do atum é rosada ou vermelha, devido ao seu alto teor de hemoglobina e mioglobina nos músculos, o que lhes permite nadar distâncias tão longas e realizar essas atividades que exigem energia.
Como todos os peixes, os atuns não conseguem regular a temperatura corporal e por isso procuram águas com temperaturas entre 17 e 33°C, formando pequenos cardumes ou cardumes. O seu sistema metabólico é muito eficiente, podendo conservar ou expelir o calor gerado pela sua atividade conforme adequado para obter os melhores resultados biológicos e a maior eficiência possível, graças a um sistema circulatório evoluído. Isto permite-lhes viver em águas mais frias (acima de 10°C) e sobreviver numa maior variedade de ambientes do que outras espécies.
O atum é um alimento muito apreciado em grande parte do planeta, graças ao impulso recebido pelos países do Leste Asiático, especialmente o Japão, e à globalização de pratos como o sushi e o sashimi, que o consideram um dos seus principais ingredientes.
Qual é a fonte do mercúrio?
Ano após ano, a atividade mineira combinada com a queima de carvão, a indústria e o tratamento de resíduos libertam milhares de toneladas métricas de mercúrio gasoso na atmosfera. Uma vez no ar, na terra e na água, esta substância tóxica sofre mutações em diferentes formas químicas, num ciclo complexo. Algumas estimativas indicam que a atividade humana triplicou a quantidade de mercúrio nas águas superficiais dos oceanos desde o início da era industrial.
Até há poucos anos pensava-se que o mercúrio chegava aos oceanos transportado pela precipitação. Análises recentes indicam que aproximadamente metade do mercúrio no mar se deve à precipitação, enquanto a outra metade entra nos oceanos devido à absorção de mercúrio gasoso.
O risco à saúde representado pela exposição ao mercúrio tem motivado campanhas globais que tentam reduzir as atividades que liberam essa substância química na atmosfera. O primeiro acordo internacional a restringir o uso de mercúrio, a Convenção de Minamata de 2017, estabeleceu que a partir de 2020 o mercúrio não será utilizado em baterias, lâmpadas ou cosméticos, além de controlar as emissões de fábricas térmicas, de cimento e químicas.
Por que o atum (e outros peixes) contém mercúrio?
Como vimos, o mercúrio é um poluente encontrado na água do mar proveniente da atmosfera (levado pela chuva ou absorção) ou pelos rios. Uma vez na água, alguns microrganismos podem convertê-lo em metilmercúrio, uma forma altamente tóxica que se acumula no tecido adiposo de peixes e mariscos.
Devido à cadeia alimentar, onde os peixes maiores comem os mais pequenos, os peixes maiores têm mais mercúrio do que os mais pequenos.
Apesar dos esforços globais para reduzir a poluição por mercúrio proveniente de atividades humanas, um estudo recente publicado na revista Environmental Science & Technology Letters da American Chemical Society indica que, embora o mercúrio transportado pelo ar tenha diminuído em todo o mundo, os níveis de mercúrio no atum praticamente não mudaram desde 1971.
Os seus autores utilizaram dados de quase 3.000 amostras de espécimes dos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico para determinar se a diminuição das emissões atmosféricas se traduziu em concentrações mais baixas de mercúrio nos oceanos, particularmente de metilmercúrio.
Também foi proposto simular o impacto de diferentes políticas ambientais nos futuros níveis de mercúrio nos oceanos e no atum. Portanto, os autores alertam que são necessárias metas de redução de emissões mais agressivas para começar a reduzir os níveis de mercúrio no atum.
É seguro comer atum enlatado (e outros peixes)?
Apesar das preocupações generalizadas sobre os possíveis efeitos adversos do mercúrio, os níveis encontrados não implicam necessariamente riscos significativos para a saúde.
O tipo de atum que usam nas latas costuma ser de tamanho pequeno, que contém menos mercúrio. Um estudo de 2014 realizado pela Universidade do Chile e pelo Ministério da Saúde daquele país, onde foi analisado o teor de mercúrio em latas de atum, indicou que das 50 amostras analisadas (33 estavam em óleo e 17 em água de 19 marcas diferentes) e de 2 países de origem: Equador e Tailândia), todos estavam abaixo do limite permitido de 1,0 mg/kg. Este estudo recomenda o consumo desses produtos à população, incluindo mulheres em fase reprodutiva, gestantes e enfermeiros.
No Brasil, os níveis de mercúrio permitidos são estabelecidos para peixes predadores em 1 mg/kg e de 0,5 mg/kg em peixes não predadores.
Saiba mais sobre demais alimentos do Brasil através do Guia Alimentar para a População Brasileira, no site do Ministério da Saúde.