Desmatamento na Amazônia provoca forte aquecimento até em regiões distantes
Uma pesquisa recente, com participação de cientistas brasileiros, revelou que o desmatamento na região Amazônica causa um forte aquecimento regional, em locais com até 100 km de distância.
Um estudo recente, realizado por pesquisadores brasileiros e britânicos, e publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), analisou o impacto do desmatamento na Amazônia nas áreas circundantes a essa atividade. Os resultados mostraram que tal desmatamento causou um aquecimento substancial até 100 quilômetros de distância do local da perda florestal.
O objetivo do estudo
Os pesquisadores queriam saber se o desmatamento na Amazônia resultava em um aquecimento em regiões mais distantes dali, então eles examinaram o impacto da perda florestal em locais até 100 quilômetros de distância da região do desmatamento.
Para isso, usaram imagens de satélite para analisar a perda florestal e dados de temperatura do ar em superfície na Amazônia durante 2001 a 2020. Esses dados foram analisados em 3,7 milhões de locais em toda a bacia amazônica.
Os autores então compararam o aquecimento ocorrido em regiões com níveis variados de desmatamento local e regional, sendo este: local - quando ocorresse em um raio de 2 Km de distância de um ponto de coleta de dados; e regional - se estivesse mais longe, entre 2 e 100 Km de distância.
As principais conclusões
Sabe-se que quando as florestas tropicais são desmatadas, o clima nas redondezas fica mais quente. E foi o que eles observaram de fato. O desmatamento local na região Amazônica causou um forte aquecimento substancial em lugares distantes com até 100 km de distância.
Descobriram também que nas áreas onde houve pouco desmatamento (menos de 10% de perda florestal), tanto local como regionalmente, houve um aquecimento de apenas 0,3°C no período estudado.
Os locais com 40% a 50% de desmatamento local, mas pouco desmatamento regional, ficaram em média 1,3°C mais quentes. Já onde houve um desmate de até 50% a nível local e regional, a situação ficou muito pior: o aumento médio da temperatura foi de 4,4°C.
Então, o estudo destaca que a perda florestal regional aumenta o aquecimento em um fator de 4, com graves consequências para a floresta amazônica remanescente e para as pessoas que nela vivem.
Impactos futuros
A pesquisa também analisou como o desmatamento futuro poderia aquecer ainda mais a Amazônia até 2050. Foram tomados por base dois cenários: um em que o Código Florestal Brasileiro é ignorado e as áreas protegidas não são resguardadas, e o outro onde existe algum tipo de proteção florestal.
No cenário mais positivo, os principais resultados indicam que no sul da Amazônia, onde a perda florestal é maior, a redução do desmatamento teria o maior benefício, reduzindo o aquecimento futuro em mais de 0,5°C no estado do Mato Grosso, por exemplo. Além disso, estima-se que esforços para reduzir o desmatamento poderiam diminuir o aquecimento futuro experimentado no sul da Amazônia em 0,56°C nos próximos 30 anos.
Celso von Randow, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e coautor do estudo, comentou: “No Brasil, são comuns estudos sobre a importância da conservação das florestas para o armazenamento de carbono, mas ainda faltam estudos sobre seus efeitos biofísicos. Isto é importante porque a Amazônia está aquecendo rapidamente devido às mudanças climáticas, e agora agravado pelo desmatamento”.
O trabalho mostra que a proteção das florestas trará grandes benefícios em escala local, regional e nacional. Dominick Spracklen, professor da Universidade de Leeds e coautor do estudo, disse: “Mostramos que a redução do desmatamento reduziria o aquecimento futuro no sul da Amazônia. Isto beneficiaria as pessoas que vivem em toda a região através da redução do stress térmico e dos impactos negativos na agricultura”.