Dormir sem dormir? Avanços científicos revelam uma possível alternativa ao sono
Pesquisadores conseguiram simular os benefícios do sono por meio da estimulação cerebral, abrindo caminho para terapias contra a insônia e novas tecnologias para otimizar o descanso.
Dormir é tão importante quanto comer ou beber, mas ainda não se sabe completamente por que isso é essencial para nossa sobrevivência. Enquanto o corpo realiza tarefas de manutenção energética durante o sono, o cérebro é o principal beneficiário: sua atividade durante o descanso noturno é fundamental para funções como a memória, o reparo neuronal e a eliminação de resíduos tóxicos relacionados a doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
Agora, um avanço científico promete revolucionar a nossa compreensão do sono: uma equipe de pesquisadores nos Estados Unidos conseguiu simular os efeitos benéficos do descanso noturno em macacos através de impulsos elétricos, o que poderá ser o primeiro passo para dispositivos que permitam o descanso sem a necessidade de dormir.
Sincronização neural e sono NREM
O estudo, publicado na prestigiada revista Science, se concentrou no sono sem movimento rápido dos olhos (NREM), uma fase que alterna com o sono REM durante a noite e também caracteriza cochilos curtos. Os pesquisadores observaram a atividade neural de um grupo de macacos antes e depois de um cochilo de 30 minutos.
“Durante o sono, notamos um aumento nas ondas cerebrais lentas e na sincronização no disparo de neurônios em diferentes regiões corticais”, explicou Natasha Kharas, autora principal do estudo. Essa sincronização parece preparar o cérebro para trabalhar melhor após o descanso: ao acordar, a atividade neuronal fica dessincronizada, permitindo que os neurônios processem as informações com mais eficiência.
Os macacos que dormiram apresentaram desempenho superior em tarefas visuais, como identificar imagens com diferentes orientações. Mas o surpreendente aconteceu quando os pesquisadores replicaram esse estado cerebral de forma artificial usando impulsos elétricos. Os resultados foram semelhantes: os macacos melhoraram seu desempenho mesmo sem dormir.
Uma possível solução para distúrbios do sono
O diretor do estudo, Valentin Dragoi, destacou o potencial terapêutico desta descoberta: “Pretendemos realizar ensaios clínicos em humanos com distúrbios do sono, estimulando diferentes partes do cérebro para melhorar a memória e o desempenho cognitivo afetados pela falta de descanso”.
Embora essa técnica ainda exija implantes cerebrais invasivos, Dragoi está otimista quanto ao desenvolvimento de métodos não invasivos. “A estimulação elétrica superficial nas camadas superiores do córtex nos encoraja a explorar alternativas que podem ser aplicadas externamente”, disse ele.
O sono REM, o próximo desafio
Apesar desse progresso, simular todo o ciclo do sono, incluindo o REM, continua sendo um desafio. Esta fase, na qual sonhamos mais vividamente, é crucial para o bem-estar emocional e o aprendizado. De acordo com Dragoi, mais experimentos serão necessários para entender como replicar seus benefícios por meio de estimulação cerebral direcionada.
O sono REM, juntamente com o NREM, é essencial para alcançar o descanso completo. Por enquanto, “dormir sem dormir” continua sendo um sonho distante, mas pesquisadores não descartam que um dia poderemos desfrutar de dispositivos que otimizam nosso descanso sem precisar fechar os olhos.
Referência da notícia
NREM sleep improves behavioral performance by desynchronizing cortical circuits. 21 de novembro, 2024. Kharas, et al.