Dunas estelares: o que são e quantos anos têm?
A tecnologia moderna resolveu um mistério que há muito intriga os geólogos. Cientistas britânicos conseguiram datar uma famosa duna marroquina. Saiba mais aqui.
Os cientistas resolveram o mistério de quanto tempo demorou para se formar uma duna de areia em forma de estrela e dataram-na de vários milhares de anos atrás.
Dunas estelares são enormes dunas de areia que recebem seu nome devido aos "braços" que se estendem a partir de um pico central. Estas pirâmides de areia, que se assemelham a estrelas vistas de cima, são comuns na África, Arábia, China e América do Norte.
Elas são criadas por ventos opostos que mudam de direção, e constituem pouco menos de 10% das dunas nos desertos terrestres.
Consideradas as dunas mais altas da Terra (uma delas no deserto chinês de Badain Jaran chega a 300 metros de altura), as dunas estelares também são encontradas em Marte e na lua de Saturno, Titã.
No entanto, embora comuns hoje em dia, estas estruturas arenosas quase nunca foram encontradas no registro geológico. A sua ausência confundiu os cientistas que estudam a história da Terra a partir de antigos desertos preservados em rochas a grandes profundidades.
Uma pesquisa realizada por acadêmicos das Universidades de Aberystwyth, Birkbeck e UCL datou pela primeira vez o tempo que levou para a formação de dunas estelares e examinou a estrutura interna de uma localizada no sudeste de Marrocos, conhecida como 'Lala Lallia', que significa "o mais alto ponto sagrado" na língua berbere.
A duna está localizada na região de Erg Chebbi, no deserto do Saara, perto da fronteira com a Argélia. Esta área apareceu em séries de televisão como SAS Rogue Heroes e em filmes de sucesso como The Mummy e Sahara.
Segundo a pesquisa, a pirâmide de areia atingiu a altura atual de 100 metros e largura de 700 metros devido ao seu rápido crescimento nos últimos 1.000 anos, avançando lentamente para o oeste. Esta descoberta surpreendeu os cientistas, pois anteriormente se acreditava que as dunas maiores eram muito mais antigas.
Resultados surpreendentes
Segundo o professor Geoff Duller, do Departamento de Geografia e Ciências da Terra da Universidade de Aberystwyth, as descobertas foram possíveis graças às novas tecnologias. "Esta pesquisa é sobre a duna de areia desaparecida – era um mistério o motivo pelo qual ela não foi vista no registro geológico", disse ele.
"Estas descobertas provavelmente surpreenderão muitas pessoas porque podemos ver a rapidez com que esta enorme duna se formou e se move através do deserto a cerca de 50 cm por ano", acrescentou.
Os cientistas realizaram pesquisas inovadoras que sugerem que a formação da duna ocorreu por volta do mesmo período que um resfriamento extremo na história da Terra, conhecido como evento Younger Dryas. Além disso, descobriu-se que a duna parou de crescer há aproximadamente 8.000 anos.
A descoberta de cerâmica no sítio também indica a presença de condições mais úmidas, possivelmente devido à expansão das monções, que ajudou a estabilizar a duna antes do início de uma grande seca.
Nova tecnologia
O professor Charlie Bristow, de Birkbeck e UCL, explicou que a tecnologia de radar de penetração terrestre permitiu à equipe olhar dentro da duna para ver como ela se formou. Os pesquisadores também desenvolveram um novo modelo para ajudar os geólogos a identificar características do deserto no registro rochoso.
A idade da duna foi determinada usando técnicas de datação por luminescência desenvolvidas na Universidade de Aberystwyth, a fim de descobrir quando os minerais da areia foram expostos à luz solar pela última vez.
Esta técnica é a mesma que o professor Duller utilizou para descobrir a estrutura de madeira mais antiga do mundo: um arranjo de toras de madeira na margem de um rio que faz fronteira com a Zâmbia e a Tanzânia, anterior à chegada do homem moderno.
Referência da notícia:
Bristow, C. S. et al. Structure and chronology of a star dune at Erg Chebbi, Morocco, reveals why star dunes are rarely recognised in the rock record, Scientific Reports, v. 14, n. 4464, 2024.