Ectotérmicos: comportamento e fisiologia mitigam efeitos do aquecimento?
De acordo com um recente estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos da América, as mudanças climáticas podem alterar o comportamento em animais ectotérmicos. Veja aqui como é que isso acontece.
Um desafio premente na ecologia é prever os efeitos das mudanças climáticas em curso sobre a aptidão, abundância e distribuição dos organismos. Embora as mudanças na fenologia e na distribuição geográfica já estejam documentadas para algumas espécies, estes efeitos continuam a ser difíceis de prever de forma mais geral. O clima é tipicamente registrado e projetado em uma escala de quilômetros, geralmente com temperaturas do ar entre 1 a 2 metros acima do solo.
Contudo, a maioria das espécies do planeta são ectotérmicas (as temperaturas corporais flutuam de acordo com o ambiente), seres minúsculos inferiores a 1 cm de comprimento, que experimentam o clima numa escala de centímetros ou metros.
Como resultado, as temperaturas macroscópicas do ar são maus preditores das temperaturas corporais experimentadas por pequenos seres ectotérmicos.
A termorregulação comportamental pode também moderar os efeitos das alterações climáticas nos ectotérmicos. Embora a termorregulação comportamental esteja bem documentada nos ectotérmicos vertebrados e invertebrados, ainda não está claro se os repertórios comportamentais dos ectotérmicos serão suficientes para evitar o stress térmico sob as mudanças climáticas.
Investigação científica
Em um estudo da Universidade da Carolina do Norte, publicado no Journal of Animal Ecology, foi examinado o potencial de alterações fisiológicas e comportamentais para mitigar os efeitos do aquecimento em cinco espécies de formigas em um habitat florestal temperado sujeito ao aquecimento urbano.
A pergunta de partida foi se as características fisiológicas (tolerância ao calor e temperatura preferida) estão correlacionadas com as temperaturas locais, significando adaptação ao aquecimento urbano.
Contudo estes impactos continuam a ser difíceis de prever, em parte porque os ectotérmicos podem se adaptar a novas condições, ou podem utilizar a termoregulação comportamental para reduzir a sua exposição a microclimas stressantes.
Espera-se que as alterações climáticas globais tenham efeitos generalizados na diversidade e distribuição das espécies, particularmente nos ectotérmicos
cujas temperaturas corporais dependem das temperaturas ambientais.
Os métodos
A equipa de pesquisa trabalhou em oito áreas florestais urbanas e oito não urbanos na Carolina do Norte, EUA. Em cada local, os pesquisadores documentaram microclimas específicos de espécies (temperaturas operacionais das formigas) e atividade das formigas em um trajeto de 14 estações de isco em três alturas do dia.
Em laboratório, foi medida a tolerância térmica superior e a preferência térmica para cada espécie focal, tendo sido questionado pelos cientistas se as características térmicas alteravam em locais mais quentes, e se as formigas evitavam microclimas não preferenciais no campo.
A tolerância térmica superior e a preferência térmica não aumentaram em locais mais quentes, indicando que estas populações não se adaptaram ao aquecimento urbano.
A termorregulação aparente resultou em padrões fixos de atividade que ajudaram as formigas a evitar as temperaturas mais inadequadas, mas não compensaram a variação diária ou espacial da temperatura: os locais mais quentes tinham formigas mais quentes.
Os resultados
Os resultados deste estudo sugerem que a adaptação e o comportamento não protegem algumas das formigas florestais temperadas mais comuns de um clima de aquecimento.
Não foram detectados indícios de que as características térmicas das formigas se tivessem adaptado ou habituado ao aquecimento antropogênico local, embora as populações de insetos estejam frequentemente adaptadas termicamente a elevações específicas habitats ou estações, e a sua capacidade de responder ao aquecimento antropogênico é menos clara.
O estudo fornece provas de que, num habitat florestal temperado, nem as características nem as mudanças comportamentais amortecem as formigas mais comuns contra o aquecimento.
Em vez disso, estes insetos podem sofrer mudanças metabólicas generalizadas à medida que o seu habitat aquece, apontando para a necessidade de investigação contínua de forma a compreender a capacidade de adaptação térmica e plasticidade comportamental nos ectotérmicos, uma vez que é essencial para prever os efeitos das mudanças climáticas na maioria das espécies do planeta.