El Niño: 90% dos eventos serão extremos se as mudanças climáticas não forem freadas
Um novo estudo sugere que 90% dos eventos de El Niño futuros serão extremos se as mudanças climáticas atuais não forem desaceleradas. Veja mais informações aqui.
Segundo uma pesquisa recente publicada na revista Geophysical Research Letters, eventos extremos de El Niño podem se tornar o novo normal. É isso mesmo.
Já sabemos que o planeta está a caminho de aquecer 2,9 ºC acima dos níveis pré-industriais até 2100 se as tendências atuais de emissão de gases de efeito estufa (GEEs) continuarem, segundo um relatório das Nações Unidas divulgado ano passado.
Mas segundo esse estudo, se o planeta seguir com a tendência atual de aquecimento, quase todos os próximos eventos de El Niño serão extremos, como aqueles mais fortes que se tem registros. Veja mais detalhes aqui conosco.
El Niños extremos em um mundo de aquecimento
Como falamos acima, o mundo está caminhando para aquecer 2,9ºC acima da era pré-industrial até 2100. Mas, de acordo com o estudo, se o planeta aquecer um pouco mais do que isso, isto é, chegar a 3,7ºC acima dos níveis pré-industriais, então cerca de 90% dos eventos de El Niño serão extremos, como aquele mais forte já registrado de 1997/1998.
O El Niño de 97/98 foi um dos mais notáveis, e calcula-se que tenha levado à morte 23.000 pessoas e deixado 45 bilhões de dólares de prejuízo no mundo, segundo uma estimativa de 1999 publicada na revista Science. Ele causou secas prolongadas na Indonésia e Austrália, e chuvas intensas na América do Sul, que causaram inundações, deixando vários mortos e desabrigados. O fenômeno afetou a economia global, aumentando os preços dos alimentos e causando prejuízos em vários setores.
Outro evento de destaque foi o El Niño de 1982/1983, que também foi um dos mais intensos já registrados. Ele afetou a produção agrícola e levou à insegurança alimentar na Austrália, Indonésia e Índia; e afetou a pesca em várias partes do mundo, levando a uma diminuição na captura de peixes e afetando a subsistência de comunidades que dependiam disso.
Os autores da pesquisa utilizaram um modelo climático para representar os padrões do El Niño, e descobriram que o aquecimento global atual causou condições mais fortes e frequentes do fenômeno.
Além disso, sob o aquecimento atual que estamos vivenciando, o modelo previu oito ou nove El Niños por século.
Com 3,7ºC de aquecimento, esse número disparou para 26 El Niños a cada 100 anos, em uma oscilação quase regular de quatro anos. Nessas condições, os pesquisadores também descobriram que 90% desses El Niños seriam extremos; esses extremos são devidos a condições extra quentes no Pacífico oriental sobre a linha do equador.
O estudo finaliza questionando se o El Niño seria um "ponto de inflexão" no sistema climático. Pontos de inflexão são fatores que mudam rapidamente sob novas condições climáticas, mas não retornam facilmente ao que eram se tais condições mudarem novamente; ou seja, neste caso, se as temperaturas diminuírem.
Dessa forma, a pesquisa sugere que este pode ser o caso do El Niño, que não se recuperaria para um padrão mais "normal" por mais de um século, se ele se tornasse um fenômeno extremo.
Referência da notícia:
Bayr, T. et al. Is El Niño-Southern Oscillation a Tipping Element in the Climate System?. Geophysical Research Letters, v. 51, n. 13, 2024.