Engenheiros químicos descobrem como reciclar roupas feitas com mistura de fibras: “nunca deixaremos de comprar”
Atualmente, o percentual de roupas recicladas é inferior a 1%. As roupas que não usamos acabam jogadas em aterros sanitários ou queimadas. Mas um novo processo promete mudar isso.
A indústria têxtil, e consequentemente o mundo da moda, é responsável por aproximadamente 10% do total de resíduos, que se acumulam em centenas de toneladas em aterros sanitários ao redor do mundo. Grande parte desses resíduos acumulados não é reciclável.
As roupas mais modernas de hoje são compostas por novas fibras ou misturas de fibras como poliéster, elastano e náilon, que possuem propriedades físicas muito particulares.
Por exemplo, o náilon é um polímero sintético que pertence ao grupo das poliamidas. Contém grupos químicos funcionais denominados amida e possui ótimas propriedades em termos de resistência, elasticidade e transparência.
Além disso, quando submetido a altas temperaturas, o náilon derrete e sua viscosidade diminui bastante. Esta fibra têxtil elástica e muito resistente não é atacada pelas traças e não necessita de ser passada a ferro. Por isso, é utilizado na fabricação de meias, malhas e tecidos, cerdas, linhas de pesca e até redes de pesca.
Desvantagens ambientais das roupas modernas
Os têxteis feitos de poliéster, elastano e náilon apresentam uma grande desvantagem para o meio ambiente. Eles despejam constantemente microplásticos e a maioria das instalações de reciclagem não possui equipamentos para manusear esses materiais.
Por outro lado, existem métodos para reciclar essas peças como um todo. Mas se as fibras que compõem a roupa forem combinadas com outros tecidos, como algodão ou lã, não existe um método viável que possa reciclá-las.
Em que consiste esse novo processo de reciclagem?
Erha Andini, engenheira química da Universidade de Delaware, é a principal autora do estudo que descobriu um processo pioneiro de reciclagem têxtil, através da dissolução do poliéster.
Este processo se baseia na utilização de um solvente que permite quebrar as ligações químicas do poliéster e do náilon. Provoca o desprendimento dos fios artificiais e naturais, permitindo condições ideais de reciclagem em que ambos os tipos de fios são devolvidos a um sistema de circuito fechado criado para a reciclagem exclusiva destes têxteis.
Vantagens do novo método de reciclagem
Este novo método de reciclagem química permitiria que as roupas com mistura de fibras fossem decompostas em partes reutilizáveis e recicláveis, sem qualquer triagem ou separação prévia.
Esta é uma forma potencialmente inovadora de reciclar roupas que atualmente se acumulam no planeta como resíduos não biodegradáveis, uma vez que não existe um processo para separar as fibras artificiais das naturais.
A técnica descoberta pode ajudar a decompor roupas misturadas com fibras e convertê-las em matéria-prima para a produção de futuros têxteis, retornando assim ao ciclo sem utilizar novos recursos.
Que desafios esta nova técnica apresenta?
O estudo revelou que algumas fibras artificiais estão muito degradadas para serem utilizadas posteriormente após o processo de reciclagem. Portanto, perde-se valor significativo na revenda do produto reciclado.
Outro problema que apresenta é que embora o consumo de energia durante o processo seja baixo, o solvente necessário tem um custo significativamente caro. O processo é mais econômico e eficiente em termos de consumo de energia, se a energia de um micro-ondas for simplesmente utilizada para ativar o solvente.
Apesar dessas desvantagens, Andni está disposta a trazer esse método para o mercado após receber uma bolsa estudo de empreendedorismo. Seu objetivo é obter componentes puros de cada peça de roupa para poder transformá-los em fios e com eles fazer novas peças de roupa.
Referência da notícia:
Andini, E. et al. Chemical recycling of mixed textile waste. Science Advances, v. 10, n. 27, 2024.