Estudo afirma que fungos podem melhorar o rendimento da produção agrícola em até 40%
Um novo estudo publicado recentemente identificou que os fungos micorrízicos podem aumentar o rendimento das plantações em até 40%, ao aumentarem a absorção de nutrientes nas raízes.
Sabe-se que a produção global de alimentos é um grande desafio, por conta do aumento crescente da demanda. Estima-se que até 2050, a população mundial terá chegado a 10 bilhões de habitantes, o que, somado às mudanças nos hábitos alimentares, resultará em um aumento de 50% da demanda por alimentos.
Além disso, considerando os desperdícios gerados pela cadeia produtiva e pelos consumidores, cerca de um terço da produção mundial de alimentos é desperdiçada. Para piorar, um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado ano passado, estima que 40% de todos os solos do mundo estão moderada ou gravemente degradados, e poderá aumentar para 90% até 2050 se o desmatamento, o cultivo intensivo, o uso indiscriminado de pesticidas e fertilizantes e outras práticas prejudiciais persistirem.
Mas um estudo realizado por pesquisadores suíços trouxe uma luz: eles identificaram que fungos podem melhorar a qualidade e a produtividade do solo, e consequentemente, melhorar o rendimento da produção agrícola em até 40%.
A pesquisa em campo
Desta forma, se fazem necessárias soluções alternativas aos fertilizantes e pesticidas, que reduzam o impacto ambiental na agricultura. Aí é que surgiu essa pesquisa.
Os autores realizaram experimentos em grande escala (que até então não existiam dessa forma) em 800 parcelas de 54 campos agrícolas na Suíça, através da inoculação (prática agrícola de injetar) de fungos micorrízicos arbusculares (FMAs) no solo, e quantificaram os seus efeitos no crescimento do milho.
Este tipo de fungo existe de forma natural em solos saudáveis e penetra nas raízes das plantas para formar estruturas semelhantes a árvores. Quando eles se ramificam, aumentam a área de superfície radicular da planta e, por consequência, a absorção de nutrientes.
Os resultados foram bem variáveis, mas, de forma geral, mostraram que os FMAs podem melhorar a produtividade das culturas de milho em até 40%, sem o uso adicional de fertilizantes ou pesticidas. Contudo, vale destacar que em um terço dos locais houve um aumento menor ou até diminuição (de 12%) da colheita. Ao investigarem o porquê disso, os autores descobriram que o solo saudável produzia os mesmos rendimentos (ou, em alguns casos, rendimentos inferiores). “Descobrimos que a inoculação funcionou melhor quando já havia muitos patógenos fúngicos no solo”, disse Stefanie Lutz, autora principal do estudo.
Uma agricultura mais produtiva e sustentável
Conforme o estudo, os fungos fornecem uma linha de defesa para o solo, afastando patógenos que atacam plantas e reduzem a produtividade. Como resultado, os rendimentos poderiam ser mantidos em campos com patógenos que teriam sofrido perdas sem os fungos, enquanto o efeito benéfico dos fungos nos rendimentos era menor em campos sem contaminação por patógenos.
A equipe utilizou então indicadores do microbioma do solo para determinar a variação no crescimento das plantas, com 86% de precisão, para qualquer parcela antes da semeadura. “Conseguimos prever o sucesso da inoculação em nove de dez campos e, portanto, também podemos prever o rendimento da colheita antes mesmo da temporada. Essa previsibilidade permite direcionar o uso dos fungos nos campos onde irão atuar. Este é um elemento crucial para o desenvolvimento destas tecnologias num método agrícola confiável”, disse Klaus Schläppi, coautor do estudo.
Esta descoberta pode reforçar a produção de alimentos sem a necessidade do uso intensivo de pesticidas e fertilizantes. Novos experimentos devem ser realizados futuramente, mas os autores afirmam que esses resultados já dão uma direção a ser seguida para que a humanidade adote uma agricultura mais sustentável.
Referência da notícia:
LUTZ, S. et al. Soil microbiome indicators can predict crop growth response to large-scale inoculation with arbuscular mycorrhizal fungi. Nature Microbiology, 8, 2023.