Estudo alerta: a crise climática pode aumentar doenças e a fome global

Um estudo recente revela como a mudança climática está impactando diretamente a produção de alimentos e a saúde humana, especialmente no Sul Global, onde populações vulneráveis enfrentam maiores riscos de doenças e insegurança alimentar.

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A mudança climática afeta diretamente a produção agrícola, agravando a insegurança alimentar em regiões vulneráveis.

Um estudo recente conduzido por pesquisadores brasileiros analisou as interconexões entre a mudança climática, os sistemas alimentares e a saúde humana, focando nas regiões do Sul Global, como América Latina, África e partes da Ásia. O estudo destaca como essas áreas, frequentemente já afetadas por pobreza e desigualdade, sofrem de maneira desproporcional com as consequências da crise climática.

Sistemas alimentares e a crise climática

A produção de alimentos é uma das principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa. Segundo o estudo, entre 21% e 37% dessas emissões vêm diretamente da agricultura e da criação de animais. O gado, por exemplo, é um dos maiores contribuintes para essas emissões, enquanto culturas como arroz e trigo também exercem uma pressão significativa sobre o meio ambiente.

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A produção de gado é uma das maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa.

Esses sistemas de produção não apenas agravam a mudança climática, como também são afetados por ela. Com o aumento das temperaturas e a alteração dos padrões de chuvas, a produtividade agrícola diminui. Isso tem um impacto direto na disponibilidade de alimentos, especialmente em países mais pobres, onde a insegurança alimentar já é um problema grave. Além disso, a mudança climática afeta a qualidade nutricional dos alimentos, o que pode levar a um aumento da desnutrição em muitas dessas regiões.

Impactos na saúde humana

A crise climática afeta diretamente a saúde humana de várias maneiras. O aumento das temperaturas e as mudanças nos padrões climáticos contribuem para a disseminação de doenças transmitidas por vetores, como dengue e malária. Essas doenças, que já são comuns em regiões tropicais, têm sua transmissão intensificada em climas mais quentes e úmidos.

Além das doenças infecciosas, o estudo alerta para o impacto da mudança climática em doenças crônicas, como as cardiovasculares e respiratórias. A exposição prolongada ao calor extremo e à poluição do ar piora as condições de saúde, aumentando o número de internações e mortes. Por exemplo, o estudo cita que, até 2030, cerca de 250.000 mortes adicionais por ano podem ocorrer em razão de fatores relacionados à mudança climática, como a desnutrição e o estresse térmico.

A justiça climática

Um aspecto importante abordado pelo estudo é o conceito de "justiça climática". Ele se refere à ideia de que, embora as mudanças climáticas afetem o mundo todo, elas não atingem a todos de forma igual.

No Sul Global, as comunidades mais pobres, especialmente as mulheres, crianças e minorias étnicas, sofrem mais com os efeitos das mudanças climáticas, mesmo sendo as que menos contribuem para o problema.

Essas populações enfrentam maiores desafios para se adaptar, pois têm menos acesso a recursos e infraestrutura. Por isso, o estudo defende a necessidade de políticas públicas que considerem esses grupos vulneráveis. A solução proposta é uma governança policêntrica, onde diferentes níveis de governo e sociedade trabalhem juntos para criar soluções sustentáveis e equitativas.

Soluções e governança

De acordo com o estudo, para enfrentar esses desafios, é necessário integrar diferentes áreas de conhecimento, como saúde pública, ecologia e economia, e adotar políticas que promovam a sustentabilidade e a equidade. Uma dessas propostas é a criação de sistemas de governança que envolvam todos os setores da sociedade. Governos, empresas, ONGs e comunidades precisam trabalhar em conjunto para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e garantir que as populações mais vulneráveis sejam protegidas.

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Comunidades devem colaborar para mitigar os efeitos da mudança climática e proteger as populações mais vulneráveis.

O estudo é um alerta importante sobre como a mudança climática afeta diretamente os sistemas alimentares e a saúde humana, especialmente nas regiões mais pobres do planeta. Ele destaca a urgência de ações coordenadas e políticas públicas que levem em consideração os princípios de justiça climática, garantindo que todos tenham acesso a um futuro mais saudável e sustentável

Referência da noticia:

Gomes, S. M., Carvalho, A. M., Cantalice, A. S., Magalhães, A. R., Tregidgo, D., de Oliveira, D. V. B., ... & Jacob, M. C. M. (2024). Nexus among climate change, food systems, and human health: An interdisciplinary research framework in the Global South. Environmental Science & Policy, 161, 103885.