Sustentabilidade: desmatamento no Cerrado põe em risco agricultura e recursos hídricos, alerta estudo

Um estudo publicado na Nature Sustainability alerta que o desmatamento acelerado do Cerrado compromete o ciclo hídrico, reduz chuvas e ameaça o futuro do agronegócio brasileiro, afetando a economia e a biodiversidade desse bioma essencial.

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A destruição da vegetação do Cerrado ameaça a biodiversidade única e os serviços ambientais fundamentais para o agronegócio.

O Cerrado, conhecido como a "caixa d'água do Brasil", está em risco. De acordo com um estudo publicado na revista científica Nature Sustainability por pesquisadores brasileiros e internacionais, o desmatamento acelerado no bioma ameaça o ciclo hidrológico, a biodiversidade e, principalmente, a viabilidade econômica do agronegócio no país.

O Cerrado é responsável por abastecer grandes rios e aquíferos subterrâneos, além de regular o clima regional. Ao eliminar essa vegetação, perde-se a capacidade natural do bioma de armazenar água e manter o equilíbrio ecológico.

Segundo os cientistas, a remoção da vegetação nativa prejudica diretamente a recarga de aquíferos e reduz a formação de chuvas, elementos cruciais para manter a produtividade agrícola.

O impacto no ciclo das chuvas

O estudo evidencia que a vegetação do Cerrado é essencial para a evapotranspiração, processo pelo qual as plantas liberam umidade para a atmosfera. Essa umidade é a base para a formação de nuvens e chuvas, fundamentais para a agricultura. Sem ela, a terra seca rapidamente, e os períodos de seca se tornam mais longos e frequentes.

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Berço de rios e aquíferos, essencial para a agricultura e o abastecimento de água.

Além disso, a perda de cobertura vegetal faz com que a temperatura média aumente, agravando o estresse hídrico. Isso afeta diretamente lavouras de soja, milho e outras culturas dependentes de um regime climático regular. O cenário descrito pelos pesquisadores é preocupante: se o desmatamento continuar no ritmo atual, o Cerrado poderá perder sua capacidade de sustentar a agricultura e abastecer as cidades com água potável.

Agronegócio: um futuro ameaçado

O paradoxo do desmatamento no Cerrado é evidente. Muitas áreas são destruídas para expandir o agronegócio, mas essa mesma destruição mina as bases que sustentam a produção. Sem água suficiente e com um clima mais instável, a produtividade agrícola cai, gerando prejuízos para os produtores e para a economia nacional.

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Destruir o Cerrado para expandir o agronegócio ameaça os próprios recursos naturais que sustentam a produção e a economia.

Especialistas recomendam políticas urgentes de conservação e manejo sustentável para reverter esse cenário. Soluções incluem a recuperação de áreas degradadas, a manutenção de reservas legais e a adoção de práticas agrícolas mais eficientes no uso de recursos naturais. Proteger o Cerrado é garantir a sobrevivência de ecossistemas únicos e, ao mesmo tempo, assegurar a continuidade da produção agrícola que abastece o Brasil e o mundo.

Biodiversidade e o custo invisível do desmatamento

Além dos impactos na agricultura, o Cerrado abriga uma biodiversidade única que está desaparecendo rapidamente. Espécies de plantas, animais e microorganismos, muitas delas exclusivas desse bioma, dependem da vegetação nativa para sobreviver. Com o desmatamento, habitats são destruídos, e muitas dessas espécies estão ameaçadas de extinção, causando um desequilíbrio em cascata nos ecossistemas.

Esse "custo invisível" vai muito além do meio ambiente. A biodiversidade do Cerrado também desempenha um papel econômico ao fornecer serviços essenciais, como polinização para lavouras, controle natural de pragas e melhoria da qualidade do solo. Ignorar esses impactos pode gerar perdas financeiras expressivas no futuro, com a necessidade de soluções artificiais para compensar os danos ambientais.

Referência da notica

Intensification of climate change impacts on agriculture in the Cerrado due to deforestation. 6 de dezembro, 2024. Leite-Filho, A.T., Soares-Filho, B.S., Oliveira, U. et al.