Estudo alerta que o Ártico pode ficar sem gelo marinho muito mais cedo do que o esperado
O Oceano Ártico poderá enfrentar o seu primeiro verão sem gelo muito mais cedo do que o esperado. A ausência de gelo nas regiões polares pode alterar drasticamente os padrões meteorológicos e o clima em todo o mundo.
Um estudo publicado esta semana na revista Nature Communications alerta que em 2027 um cenário dramático poderá ocorrer pela primeira vez: o desaparecimento total do gelo no Oceano Ártico durante um dia inteiro. Este fenômeno representaria um marco sem precedentes no clima global.
Os modelos de previsão que têm sido usados para estimar quando poderá haver um mês inteiro sem gelo nesta região projetaram esse evento para a década de 2030. Mas agora, as pesquisadoras Celine Heuzé, da Universidade de Gotemburgo, e Alexandra Jahn, da Universidade do Colorado em Boulder, se perguntaram sobre o primeiro dia sem gelo no Ártico.
“Como é provável que o primeiro dia sem gelo ocorra antes do primeiro mês sem gelo, queremos estar preparados. Também é importante saber quais eventos podem causar o derretimento de todo o gelo marinho do Oceano Ártico”, disse Heuzé.
Para estimar quando esse primeiro dia acontecerá, as cientistas usaram mais de 300 simulações de computador. A maioria dos resultados sugeriu que o fenômeno poderia ocorrer em algum momento nos próximos 9 a 20 anos, independentemente das mudanças nas emissões humanas.
No entanto, 9 das simulações indicaram que o primeiro dia sem gelo poderia ocorrer nos próximos 3 a 6 anos, o que colocaria 2027 como uma data crítica e iminente. “Este é um cenário extremo, mas é uma possibilidade segundo os modelos”, indicam as pesquisadoras.
Além disso, as autores explicam que um cenário combinado de invernos e primaveras anormalmente quentes poderia causar, por um lado, o derretimento do gelo existente e, por outro, impedir a formação de novo gelo marinho. Isto levaria à primeira temporada sem gelo entre 2027 e 2030. Durante este período, a ausência de gelo poderia durar entre 11 e 53 dias.
Implicações de um Oceano Ártico sem gelo
Quando o Oceano Ártico tem menos de um milhão de quilômetros quadrados de gelo, os cientistas consideram o Ártico “livre de gelo”. Este limiar, equivalente a uma cobertura de gelo inferior a 15%, está associado ao aquecimento causado pelas atividades humanas, especialmente pela emissão de gases de efeito estufa.
O Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo (NSIDC) informou que, em 2024, o dia com menor quantidade de água do mar congelada no Ártico foi de 4,28 milhões de quilômetros quadrados, e foi um dos mais baixos registrados desde 1978. Este mínimo, embora acima do mínimo histórico registrado em setembro de 2012, representa um declínio acentuado em comparação com a cobertura média de 6,85 milhões de quilômetros quadrados entre 1979 e 1992.
O gelo marinho desempenha um papel vital na regulação do clima, refletindo a luz solar e mantendo o Ártico fresco. A perda desse 'escudo' natural faria com que as águas absorvessem mais calor, acelerando o aquecimento em toda a região. Isto, por sua vez, alteraria os padrões dos ventos e das correntes oceânicas, favorecendo fenômenos extremos, como ondas de calor, inundações e tempestades mais intensas em diferentes partes do mundo.
Além disso, o derretimento do gelo do Ártico está facilitando o acesso a rotas marítimas anteriormente bloqueadas pelo gelo, como evidenciado pelo aumento do tráfego de navios no Ártico entre 2009 e 2018, de acordo com um relatório da NOAA.
Esta abertura coloca desafios ambientais e geopolíticos, uma vez que o ecossistema do Ártico é altamente vulnerável e alterações na sua dinâmica podem desencadear conflitos sobre recursos e rotas marítimas.
O desaparecimento do gelo durante o verão indica uma tendência a longo prazo de redução e afinamento, que poderá ser irreversível se não forem tomadas medidas drásticas para reduzir as emissões globais. “Qualquer redução nas emissões ajudaria a preservar o gelo marinho”, disse Jahn.
Referência da notícia
The first ice-free day in the Arctic Ocean could occur before 2030. 03 de dezembro, 2024. Céline Heuzé e Alexandra Jahn.