Estudo da Unifesp revela contaminação de microplásticos em praias de proteção integral no Brasil

Segundo um novo estudo da Unifesp, até áreas marinhas protegidas no Brasil estão sendo contaminadas por partículas de microplásticos devido à ação humana

Área de conservação no Arquipélago de Alcatrazes
Área de conservação no Arquipélago de Alcatrazes, localizado na costa de São Paulo, uma das áreas de proteção integral analisadas no estudo. Crédito: Kelen Leite/MMA.

A poluição por microplásticos não é um assunto novo. Temos visto várias pesquisas que identificaram a presença desse material prejudicial em vários ambientes na Terra: em solo, na água e até no ar!

Agora, uma nova pesquisa realizada por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), em parceria com cientistas australianos, identificou a presença de partículas de microplásticos até em áreas de proteção integral (chamadas de ‘no-takes’ na literatura internacional) do Brasil, que são áreas marinhas protegidas (AMPs) mais restritivas à presença humana.

Uma área marinha protegida (AMP) é uma parte do oceano onde o governo colocou limites à atividade humana. Muitas AMPs permitem que as pessoas desfrutem deste local de forma que não danifiquem o meio ambiente.

As dez áreas de proteção integral analisadas no estudo foram: Parque Nacional de Jericoacoara, Atol das Rocas, Fernando de Noronha, Rio dos Frades, Abrolhos, Tamoios, Arquipélago de Alcatrazes, Guaraqueçaba, Carijós e Arvoredo. Veja mais detalhes abaixo.

Áreas marinhas protegidas não estão imunes à poluição plástica

O estudo, que foi divulgado na revista Environmental Research, analisou moluscos bivalves, como ostras, mariscos e mexilhões, como os sentinelas do mar para detectar a contaminação microplástica nas 10 áreas protegidas nos litorais do Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil.

Esses animais foram escolhidos por que se alimentam filtrando a água do mar. Se essa água contém partículas contaminantes (como os microplásticos), os moluscos os retêm, acumulando-os ao longo do tempo. Isso fornece um histórico mais confiável da poluição marinha.

Microplásticos são fragmentos de plástico com menos de 5 milímetros de diâmetro, baseados em polímeros. Eles podem ser produzidos diretamente ou derivados de objetos maiores.

De acordo com as análises químicas, os principais tipos de microplásticos encontrados foram: polímeros utilizados em tintas e vernizes, possivelmente provenientes de barcos e embarcações turísticas (28,1%); celulose, que tanto pode ter sido de origem natural (plâncton, algas, plantas marinhas e vegetação terrestre) quanto de origem antropogênica (papéis, papelões, resíduos de alimentos etc.) (21%); polietileno tereftalato (PET) (14%), comumente encontrado em embalagens plásticas e fibras sintéticas; e politetrafluoretileno (PTFE ou teflon) presente em revestimentos antiaderentes e industriais (12,3%).

As dez áreas de proteção integral estudadas no litoral do Brasil. Crédito: Ítalo Braga.

“Os microplásticos podem chegar a esses locais transportados pelo vento ou pelas correntes oceânicas”, comentou à Agência FAPESP Ítalo Braga, professor do Instituto do Mar da UNIFESP e coordenador do estudo.

Dentre as áreas analisadas, a maior contaminação foi registrada no Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes, que fica em São Sebastião, no litoral norte do estado de São Paulo. A menor contaminação foi registrada na Reserva Biológica do Atol das Rocas, no estado do Rio Grande do Norte.

microplásticos
Microplásticos são fragmentos de plástico com menos de 5 milímetros de diâmetro, baseados em polímeros. Eles podem ser produzidos diretamente ou derivados de objetos maiores. Crédito: Shutterstock.

Contudo, os pesquisadores do estudo destacam que os níveis detectados nessas áreas estão abaixo da média global para AMPs.

E para eles, o simples estabelecimento de AMPs não é suficiente para barrar a poluição plástica. É essencial uma gestão ambiental eficiente e uma fiscalização rigorosa nessas áreas. “Para mitigar isso, apenas medidas globais, como o Tratado Global dos Plásticos, atualmente em fase de negociação e desenvolvimento sob a coordenação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, podem fazer diferença”, comentou Braga.

Referências da notícia

Áreas marinhas protegidas no Brasil estão contaminadas por microplásticos. 23 de março, 2025. Thiago Dantas.

Áreas marinhas de proteção integral do Brasil estão contaminadas por microplásticos. 20 de março, 2025. Agência Fapesp/Redação.

Microplastic contamination in no-take Marine Protected Areas of Brazil: Bivalves as sentinels. 01 de março, 2025. Nunes, et al.