Estudo indica uma diminuição de 43% no número de ciclones no Oceano Índico
Um grupo de pesquisadores investigou a ocorrência de ciclones tropicais no oceano Índico nos últimos 60 anos. Os resultados do seu estudo mostraram uma diminuição de 43% na frequência desses fenômenos nas últimas décadas.
Ciclones tropicais são fenômenos meteorológicos que podem se intensificar rapidamente, ameaçando as regiões onde ocorrem. Em mar, podem causar intensas ondas, chuvas, ventos e gerar marés de tempestade. Em terra, devido aos seus ventos fortes, podem danificar ou destruir veículos, edifícios, casas, pontes, etc.
Pesquisadores dos Estados Unidos, Índia, Emirados Árabes Unidos e do Canadá decidiram investigar a ocorrência de ciclones tropicais no oceano Pacífico durante os últimos 60 anos, e os resultados foram publicados recentemente em um artigo na revista Nature Communications. Eles identificaram que uma área sofreu uma diminuição significativa de 43% na atividade de ciclones nas últimas décadas.
Como foi feita a pesquisa?
Os cientistas utilizaram dados da trajetória e do número de ciclones tropicais originados na Baía de Bengala (83°E–95°E, 5N°–11°N) sobre o norte do Oceano Índico, durante a temporada pós-monções (de outubro a dezembro) nos últimos 60 anos.
Os resultados revelaram um declínio acentuado de 43% na frequência dos ciclones tropicais nas últimas décadas (1981–2010) em comparação com as décadas anteriores (1951–1980). “Houve um declínio perto do equador, mas houve um aumento ao mesmo tempo longe do equador, no Oceano Índico”, disse Pallav Ray, coautor do estudo. "No geral, há definitivamente um declínio, mas o declínio não é tão alto, porque houve um aumento longe do equador."
O que está por trás dessa diminuição dos ciclones próximo ao equador?
Segundo o estudo, a diminuição na frequência dos ciclones tropicais se deve principalmente pela redução da vorticidade (rotação de um fluido em movimento, por exemplo, o ar) em baixos níveis da atmosfera devido ao deslocamento para o sul nos ventos equatoriais de oeste, e pelo cisalhamento vertical do vento ligeiramente maior.
O cisalhamento nada mais é do que a mudança da velocidade do vento com a altura na atmosfera. E segundo o estudo, esse deslocamento dos ventos para o sul está fortemente associado à Oscilação Decadal do Pacífico (PDO, em inglês).
A PDO é um padrão atmosférico de longa duração, semelhante ao El Niño Oscilação Sul (ENOS), com impactos na chuva e temperatura no Brasil e no mundo. Ela é caracterizada por variações na temperatura da superfície do mar (TSM) na bacia do Pacífico. Assim como as fases do ENOS (El Niño - ou fase quente- e La Niña - ou fase fria), as fases da PDO são classificadas como quentes ou frias. Contudo, a diferença entre essas duas variabilidades climáticas está na escala de tempo: uma fase da PDO pode durar de 20 a 30 anos, enquanto no ENOS pode durar de 6 a 18 meses.
Os ciclones tropicais não se formam facilmente próximo do equador, mas podem se intensificar rapidamente ali. O padrão dos ventos no Oceano Índico ajuda a iniciar a rotação do ciclone tropical perto do equador. Sem o cisalhamento do vento para enfraquecer as tempestades, elas conseguem se mover e se intensificar. Esses resultados mostram uma situação interessante, onde a influência remota da PDO provoca menos ciclones tropicais, mas as condições termodinâmicas locais devido ao aquecimento global os tornam ligeiramente mais intensos.