Seu café da manhã em risco: estudo revela o impacto das mudanças climáticas no café arábica Brasileiro

Estudo projeta que mudanças climáticas reduzirão a frequência de geadas em lavouras de café arábica no Brasil, sugerindo estratégias adaptativas.

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Plantações de café.

O café arábica, famoso por seu sabor suave e aroma distintivo, enfrenta novos desafios à medida que o Brasil, seu maior produtor global, lida com as crescentes ameaças das mudanças climáticas. Um estudo recente, empregando os mais novos modelos do CMIP6 (Coupled Model Intercomparison Project Phase 6), projeta como as variações climáticas futuras podem afetar a produção de café, com um foco particular nos riscos associados às geadas, um fenômeno que historicamente tem prejudicado severamente as lavouras.

Pesquisadores brasileiros, usando dados de 16 Modelos de Circulação Geral (GCMs) do projeto NASA Earth Exchange Global Daily Downscaled Projections (NEX-GDDP) derivados do CMIP6, focaram na análise de riscos e adaptações necessárias para o cultivo do café arábica.

A ameaça das geadas

As geadas ocorrem quando as temperaturas caem abaixo do ponto de congelamento, causando a cristalização da água dentro das células do café, o que pode levar à morte dos tecidos vegetais. No Brasil, as regiões de maior altitude, como partes de Minas Gerais e São Paulo, são especialmente vulneráveis durante o inverno austral, de maio a setembro.

Entre os indicadores avaliados, o estresse por geada se destaca, calculado diariamente para os meses de inverno, fornecendo uma base científica para prever e mitigar seus impactos.

Tradicionalmente, esses eventos representam uma das maiores ameaças à produção de café, com potencial para destruir grandes extensões de lavouras em poucas horas. Esta semana, as temperaturas estão caindo devido a uma frente fria que avança pelo Sudeste, aumentando o risco de geadas e potencialmente prejudicando as plantações de café em regiões vulneráveis

O estudo conclui que, embora o risco de geada continue relevante, há uma tendência de redução desses eventos à medida que as temperaturas mínimas aumentam devido ao aquecimento global. Este aumento na temperatura noturna, particularmente durante os meses de inverno, poderia diminuir a frequência e intensidade das geadas, reduzindo potencialmente as perdas econômicas associadas.

Adaptações sugeridas

Deslocamento Altitudinal: Mover plantações para altitudes mais elevadas, onde as temperaturas mais frias podem compensar o aumento geral da temperatura. Variedades Resistentes: Desenvolver e cultivar variedades de café mais resilientes às mudanças climáticas e às temperaturas extremas. Técnicas Avançadas de Plantio: Implementar sistemas de agrofloresta e plantio intercalar para proteger as plantas de extremos térmicos. Irrigação Eficiente: Adotar sistemas de irrigação por gotejamento e de zona radicular parcial para maximizar a eficiência da água.

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Resumo gráfico mostrando as variáveis climáticas CMIP6, as vulnerabilidades atuais e futuras do café arábica, e a importância de medidas de adaptação para reduzir essas vulnerabilidades. Fonte: C.G. Dias et al. (2024)

A pesquisa destaca a importância de uma abordagem proativa para a gestão dos riscos climáticos na agricultura. As projeções e adaptações sugeridas não só ajudam a mitigar o impacto das geadas mas também servem como um guia para outras regiões produtoras de café e culturas afetadas globalmente pelas mudanças climáticas.

O futuro do café arábica no Brasil, uma cultura vital para a economia nacional e para milhões de consumidores ao redor do mundo, dependerá de quão efetivamente o país pode adaptar suas práticas agrícolas às novas realidades climáticas.

Referência da notícia:
Dias, C.G., Martins, F.B., & Martins, M.A. (2024). Climate risks and vulnerabilities of the Arabica coffee in Brazil under current and future climates considering new CMIP6 models. Science of The Total Environment, 907, 167753.