Estudo revela como os naufrágios estão proporcionando um refúgio para a vida marinha
Estudo cientifico comprova a importância dos navios naufragados no abrigo de espécies marinhas, como os recifes de corais. No Triângulo das Bermudas brasileiro há cerca de 200 embarcações no fundo do mar.
Um estudo inédito trouxe evidências capazes de comprovar a capacidade e o valor energético dos naufrágios no mar, para oferecer um refúgio seguro para as espécies marinhas que prosperarem em locais de atividades de pesca altamente prejudiciais.
Refúgio para a vida marinha
Estima-se que 50 mil naufrágios possam ser encontrados ao longo da costa do Reino Unido e têm funcionado como refúgio escondido para peixes, corais e outras espécies marinhas em áreas que ainda estão abertas à pesca destrutiva, como a pesca de arrasto.
A pesca de arrasto de fundo é a prática de arrastar redes enormes pelo fundo do mar para coletar peixes e outras criaturas. Esta abordagem tem o potencial de prejudicar gravemente os recifes de corais,e outros ecossistemas vulneráveis, através do esmagamento das espécies.
Este foi o primeiro estudo a demonstrar a crescente importância ecológica dos naufrágios e das áreas que os rodeiam. A pesquisa realizada pela Universidade de Plymouth e a Blue Marine Foundation, publicado na revista Marine Ecology, estudou a importância ecológica dos náufragos em áreas de forte atividade pesqueira a partir de cinco navios na costa de Berwickshire, afundado entre o final do século 19 e o início do século 20.
A pesquisa concluiu que a concentração média da vida marinha nos locais de naufrágios era 240% maior do que em locais regularmente usados para a pesca de arrasto no fundo do mar. Além disso, essa concentração era ainda maior em áreas do fundo do mar num raio de 50 metros dos destroços.
Milhões de restos navios naufragados pelo mundo
A embarcação mais antiga de que se tem notícia foi encontrada por acaso durante a construção de uma rodovia na Holanda. É uma canoa de madeira com mais de 10 mil anos de idade. Mas existem evidências circunstanciais de que a navegação teria começado muito antes, no outro lado de vastos oceanos, mares, rios e lagos. Onde há viagens marítimas, surgem inevitavelmente os naufrágios!
Mas quantos navios naufragados existem no mundo? Quantos deles ainda estão escondidos nas profundezas do oceano? Há diversos bancos de dados com informações sobre os destroços de navios espalhados pelo mundo, e cada um deles apresenta uma estimativa diferente.
Estas embarcações dificilmente estarão distribuídas de forma homogênea. Existem alguns pontos de maior concentração de naufrágios, e um deles é o arquipélago grego de Fourni, no Mediterrâneo, onde já foram encontrados 58 navios, embora não seja considerado perigoso mas era usado como ponto de ancoragem.
O Triângulo das Bermudas brasileiro
O Brasil tem um próprio “Triângulo das Bermudas”, considerado um dos maiores cemitérios de navios do mundo! Está localizado no litoral maranhense, especificamente no Parque Estadual Parcel de Manuel Luís, a cerca de 160 km da costa. O nome é uma homenagem ao pescador Manoel Luís, apontado como descobridor da região no século XIX.
O Triângulo das Bermudas brasileiro é formado por extenso grupo de rochedos de corais, algas, esponjas e moluscos. Além disso, fortes correntes marinhas, grandes variações de marés e inumeráveis bancos de areia, além dos cinturões de recifes de corais, fazem do litoral maranhense um local de difícil navegação.
Dentre os naufrágios mais famosos na região, está o petroleiro “Ana Cristina”, que aconteceu em 1984 e, por ser um dos mais recentes, está mais conservado. No local, também é possível ver o transatlântico “Henny Woerman”, que foi capturado pela Marinha Brasileira na I Primeira Guerra Mundial e foi renomeado “Uberaba”.
Mesmo sendo considerado um cemitério de embarcações, o Parcel Manuel Luís é considerado um grande paraíso, sendo a maior formação coralínea da América do Sul. E com os destroços das embarcações, o local abriga infinitas espécies de peixes raros como o nero, peixe-morcego, peixe-borboleta e outras espécies marinhas. Ou seja, isto demonstra a importância de incluir os locais de naufrágios em futuros planos de conservação, para avaliar o potencial ecológico destes locais.
Referência da notícia
Hickman, J., Richards, J., Rees, A., & Sheehan, E. V. (2023). Shipwrecks act as de facto Marine Protected Areas in areas of heavy fishing pressure. Marine Ecology, 00, e12782. https://doi.org/10.1111/maec.12782 .