Estudo revela, pela primeira vez, o surgimento de regiões áridas de deserto no Brasil
Um novo estudo feito pelo CEMADEN e INPE indica que o aquecimento global somado à perda da vegetação nativa está tornando áreas do semiárido brasileiro ainda mais secas, deixando-as com um clima similar ao de desertos.
Variações climáticas naturais combinadas com a intensificação do aquecimento global tem gerado um aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos nas diferentes regiões do Brasil. Regiões que climatologicamente são mais chuvosas estão sofrendo com episódios de chuvas ainda mais intensas e volumosas, como é o caso da região Sul, e regiões secas estão secando ainda mais, como é o caso da região Nordeste.
Esses é um dos apontamentos feitos pelos pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em um novo estudo enviado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e a outros órgãos que deverão criar um plano de ação de mitigação e combate à desertificação.
De acordo com os resultados divulgados pela UOL, que teve acesso a nota técnica do estudo, áreas do semiárido brasileiro, localizadas principalmente na região Nordeste, estão se tornando ainda mais secas, devido a intensificação das mudanças climáticas e a perda de cobertura vegetal, passando a apresentar um clima árido, igual ao de desertos.
Nesses estudos os pesquisadores utilizaram 30 anos (de 1990 a 2020) de dados de chuva e evaporação para calcular o índice de aridez, utilizado pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês). Esse índice determina o grau de aridez de uma região, baseando-se na quantidade de água disponível e a demanda de água necessária para sustentar a vida nessa região, algo que pode ser estimado pela razão entre precipitação e evapotranspiração.
Dessa forma, quanto menor o índice pluviométrico e maior a evapotranspiração, menor será o índice de aridez, aproximando a região de um clima árido. E é justamente isso que os pesquisadores observaram em regiões do Nordeste brasilieiro, principalmente no norte do estado da Bahia: uma diminuição das chuvas na região ao longo dos anos combinado a um aumento da evapotranspiração, devido principalmente ao aumento das temperaturas, acarretou em um diminuição da umidade do solo, criando condições mais secas, similares a um clima desértico.
O estudo ainda mostra que esse processo de desertificação, como podemos chamar, não se limita ao Nordeste. Os resultados mostraram que o processo de aridez do clima avança por todo o Brasil, com exceção da região Sul. Mas a situação tem sido mais preocupante nas regiões semiáridas, localizadas no Nordeste (com exceção do Maranhão) e no norte de Minas Gerais.
O El Niño de 2023 e a seca no Nordeste
Os resultados deste estudo mostram esse processo de desertificação ocorrendo até o ano de 2020, sem levar em consideração o ano de El Niño que vivemos. Como já mencionado em artigos anteriores, um dos impactos do El Niño é a diminuição das chuvas no Norte e Nordeste do Brasil, o que nos leva a pensar que neste ano o processo de desertificação será intensificado nesta região.
Esse é um alerta que o CEMADEN faz em uma outra nota técnica passada à Casa Civil da Presidência da República, a respeito dos danos econômicos, ambientais e humanos do El Niño sobre o Brasil, principalmente no Nordeste. De acordo com os dados levantados pelo Cemaden, 140 municípios nordestinos, distribuídos nos estados da Bahia, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe, já registram condições de seca severa. Além disso, 6 municípios do centro-norte da Bahia registram condições de seca extrema.
Essa é uma situação que deverá se agravar nos próximos meses, de acordo com as projeções dos modelos climáticos, que mostram uma resposta típica de El Niño na região para o trimestre de verão, com chuvas abaixo da climatologia e temperaturas muito acima da média, uma combinação que favorecerá a seca e o processo de desertificação no interior do Nordeste.