Fertilizantes de baixo carbono: inovação que é a nova fronteira da agricultura brasileira

O avanço de fertilizantes nitrogenados de baixo carbono promete revolucionar a agricultura brasileira. Tecnologias inovadoras e um modelo de produção sustentável podem tornar o país menos dependente de importações e reduzir a pegada de carbono do setor.

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Aplicação de fertilizante em campo, passo fundamental para nutrir cultivos e garantir alta produtividade, mas, é sustentável?


Recentemente, uma pesquisa publicada na prestigiada revista Nature Food revelou caminhos promissores para a produção de fertilizantes nitrogenados com baixa emissão de carbono. O estudo traz reflexões fundamentais sobre como mudanças tecnológicas podem não apenas mitigar impactos ambientais, mas também fortalecer a segurança alimentar em todo o mundo.

É um tema de grande relevância para o Brasil, quarto maior consumidor de fertilizantes nitrogenados no planeta e, ao mesmo tempo, fortemente dependente de importações para suprir sua agricultura em expansão.


No cenário atual, grande parte da amônia — base para os principais fertilizantes — ainda é produzida a partir de combustíveis fósseis, o que gera altos níveis de emissões de CO₂ e expõe os produtores a uma volatilidade de preços globais. Além disso, países com agricultura robusta, como o Brasil, ficam vulneráveis a oscilações no mercado internacional. Nesse contexto, a pesquisa divulgada pela Nature Food desperta otimismo ao apresentar soluções de baixo carbono que podem garantir maior estabilidade de oferta e preços, além de diminuir a pegada de carbono do agronegócio brasileiro.

Por que a amônia é tão importante?

A amônia é a matéria-prima essencial para a fabricação de fertilizantes nitrogenados, fundamentais para assegurar alta produtividade nas lavouras. O nitrogênio é um nutriente crítico para o crescimento das plantas, e seu uso intensivo permitiu avanços históricos na produção de grãos e outros alimentos. No entanto, esse modelo de produção depende, em grande parte, de processos industriais que utilizam gás natural e carvão, resultando em significativas emissões de gases de efeito estufa.

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Tecnologias como captura de carbono (CCS) podem tornar a produção de amônia mais sustentável e reduzir as emissões.

Segundo a pesquisa, existem alternativas mais sustentáveis para produzir amônia:

Tecnologias de captura de carbono (CCS): capturam e armazenam o CO₂ gerado, reduzindo emissões diretas;

Processos bioquímicos a partir de biomassa: aproveitam resíduos agrícolas como fonte de hidrogênio, diminuindo a dependência de combustíveis fósseis;

Eletrólise da água, alimentada por energias renováveis: usa energia limpa para quebrar a água em hidrogênio e oxigênio, minimizando a pegada de carbono.

Embora tenham custos iniciais mais elevados e demandem investimentos em infraestrutura, essas rotas podem, a longo prazo, diminuir expressivamente as emissões globais e trazer benefícios econômicos a países produtores e consumidores de fertilizantes, como o Brasil.

Desafios e oportunidades para o Brasil

No panorama brasileiro, o grande desafio está na dependência de importações. O país, mesmo sendo líder mundial em produção de commodities agrícolas, importa grande parte dos fertilizantes que utiliza. Isso torna os produtores nacionais expostos às variações de preços internacionais e a riscos de desabastecimento. Em momentos de conflitos ou restrições comerciais, o impacto no bolso dos agricultores pode ser severo — e repercutir em toda a cadeia alimentar.

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O Brasil, que, apesar de ser um gigante na produção de commodities agrícolas, ainda depende fortemente de insumos externos.

Por outro lado, o Brasil possui um imenso potencial em energias renováveis, como solar e eólica, além de vasta disponibilidade de biomassa. Nesse cenário, o país poderia:

Adotar plantas de produção de amônia de baixo carbono em escala industrial ou em projetos descentralizados;

• Reduzir a dependência externa, estabilizando preços;

Exportar fertilizantes de menor pegada de carbono, fortalecendo sua competitividade no agronegócio.

Caminhos para uma transição sustentável

Especialistas enfatizam que o sucesso desse novo modelo depende de políticas públicas integradas. Incentivos fiscais para tecnologias de baixo carbono, parcerias público-privadas e investimentos em pesquisa e desenvolvimento são elementos cruciais para alavancar essas inovações. Além disso, é fundamental capacitar os agricultores para utilizarem corretamente fertilizantes mais eficientes, reduzindo perdas e otimizando a produtividade.

O cenário que se desenha oferece ao Brasil a chance de assumir protagonismo. Além de ser líder na produção de alimentos, o país tem a oportunidade de mostrar ao mundo como aliar produção agrícola de alta escala com compromisso ambiental. Soluções de amônia verde podem garantir um suprimento interno mais estável, preços menos sujeitos a choques externos e, principalmente, uma agricultura mais sustentável, alinhada às demandas globais por redução de emissões. Com as políticas e os investimentos certos, o Brasil pode tornar-se referência internacional na produção de fertilizantes de baixo carbono.

Referência da notícia

Low-carbon ammonia production is essential for resilient and sustainable agriculture. 17 de fevereiro, 2025. Mingolla, S., Rosa, L.