Florestas escureceram nos últimos anos durante o verão na Europa
Um estudo recente analisou os eventos de perda da cor verde em florestas da Europa durante os últimos 21 anos (2002 a 2022). Os autores identificaram anomalias de temperatura e precipitação como precursoras dos eventos, com o maior impacto observado no ano de 2022.
Um estudo publicado recentemente na revista Biogeosciences identificou que eventos de secas e calor intenso nos últimos 21 anos (2002 a 2022) provocaram um escurecimento de florestas nos biomas temperado e mediterrâneo da Europa durante o verão (junho-julho-agosto).
A investigação foi realizada por pesquisadores da Universidade ETH de Zurique, do Instituto Federal Suíço para Pesquisa Florestal, Neve e Paisagem (WSL) de Birmensdorf, na Suíça, e da Universidade Técnica de Munique, na Alemanha. Os autores usaram uma abordagem baseada em observações de sensoriamento remoto do índice NDVI (Normalized Difference Vegetation Index) para identificar os eventos de escurecimento.
Os autores também destacaram que o verão do ano passado, o mais quente já registrado na Europa, afetou 37% da cobertura das florestas mediterrâneas e temperadas, reduzindo o verde delas de forma mais extensa do que qualquer outro verão em 2002-2022.
O que causou o escurecimento das florestas e por quê?
Os eventos de baixo NDVI, que representam o escurecimento das florestas, ocorreram em verões particularmente quentes e secos, com diferenças entre os biomas. Os pesquisadores identificaram um acúmulo de períodos de seca intensa e persistente cerca de 2 e 3 anos anteriores ao evento nos biomas temperado e mediterrâneo, respectivamente. Ou seja, a capacidade das árvores de sobreviverem depende não só das condições climáticas atuais, mas também dos meses anteriores.
No caso da temperatura, períodos anormalmente quentes e persistentes durante pelo menos dois anos anteriores ao evento tiveram um impacto significativo no escurecimento das florestas temperadas.
No bioma mediterrâneo, os períodos quentes ocorreram com mais frequência que o normal, contudo, neste caso, não foram tão significativos como no bioma temperado. Ou seja, a persistência de calor não parece ser um precursor significativo de eventos nesta região, mas sim o déficit de precipitação.
Mauro Hermann, autor principal do estudo, afirma que “o escurecimento das florestas na Europa central foi precedido de dois verões secos e quentes seguidos”. Em resumo: os responsáveis pela perda do verde das florestas foram a persistência de um déficit de precipitação em ambos os biomas e de anomalias positivas de temperatura no bioma temperado, por pelo menos dois anos.
Mas o que significa este escurecimento?
A redução da cor verde representa uma planta não saudável, estresse da floresta e até mesmo uma indicação de morte florestal. De acordo com o estudo, desde 2018, secas e calor em grande escala acontecem repetidamente, provocando uma perda do verde mais extensa e por mais vezes.
Apesar das descobertas, os pesquisadores afirmam que os sinais precursores identificados não podem ser usados para prever o escurecimento no futuro, mas podem dar pistas, e que uma previsão baseada apenas em dados meteorológicos é irrealista. Thomas Wohlgemuth, coautor do estudo, diz que “o monitoramento dos padrões climáticos ao longo de várias estações pode fornecer informações valiosas sobre a probabilidade de florestas descoloridas no verão seguinte”.
A morte de florestas na Europa veio se intensificando nos últimos anos e, provavelmente, isso não é algo restrito apenas a esse continente. Como visto aqui, essa perda do verde é fortemente influenciada pelas variações de temperatura e precipitação, e por isso é importante entender melhor a interação florestas-meteorologia em um mundo de mudanças climáticas.