Fungo de Yellowstone adaptado a ambientes extremos cria proteína capaz de substituir a carne
Recentemente, foram identificados fungos capazes de substituir a proteína da carne. De uma pesquisa espacial da NASA, transformou-se em um produto gastronômico diferenciado e capaz de substituir uma série de produtos para uma alimentação saudável.
Raramente, um produto alimentar de nicho aparecerá simultaneamente em uma missão espacial e num dos melhores restaurantes do mundo. No entanto, isto acabou por acontecer. Saiba mais aqui!
Produtos alimentares inovadores baseados em pesquisas da NASA
Uma empresa sediada em Chicago está a desenvolver produtos alimentares inovadores que originalmente começaram como parte de pesquisas conduzidas pela NASA.
Em 2009, Mark Kozubal, investigador da NASA, referenciou os micróbios como algo que estava a aparecer nas águas ácidas do Parque Nacional de Yellowstone. Imediatamente, foram levados para o laboratório para uma análise adicional. Kozubal lidera, desde essa altura, uma equipe de pesquisa para estudar o ambiente extremo na procura de vida que poderia ser inestimável para missões espaciais.
Inicialmente, Kozubal pensou que estes organismos, capazes de viver em ambientes de condições físico-geo-químicas extremas para a maioria dos outros seres vivos do planeta Terra (extremófilos), poderiam tornar-se uma fonte de biodiesel. No entanto, como o gás estava tão barato nos Estados Unidos da América (EUA) naquele período era muito difícil de aditá-lo à competição. Como este microrganismo pertencia à família dos fungos, o ex-presidente da empresa de embalagens, Thomas Jonas, sugeriu transformar os micróbios em alimentos.
Em maio de 2018, foi fundada a empresa alimentar Nature's Fynd em Chicago, com a utilização do fungo Fusarium str. Yellowstonensis (Fy) como elemento diferenciador para a produção alimentar. Investigadores da NASA levaram 18 meses antes de conseguirem criar algo que se assemelhasse a comida.
Em uma primeira fase, o enfoque deu-se no modo como o microrganismo se comportaria na natureza. Em um laboratório da Universidade de Chicago, inventaram uma técnica chamada “fermentação líquido-ar”.
Os investigadores aplicaram uma célula fúngica colocada em água e alimentaram-na com açúcar para ajudá-la a crescer e multiplicar-se. O processo foi impulsionado com a utilização de um reator biológico e, uma vez concluído, os micróbios foram colocados com água, sais e açúcares. O ambiente ácido após a cozedura ajudou o Fy a crescer enquanto mantinha as outras bactérias afastadas. Em apenas três dias, os micróbios foram a base para a produção de proteína completa, com nove aminoácidos essenciais necessários ao corpo humano (equivalente, em valor de proteína, a 25 frangos).
Sabe-se agora que esta proteína pode, de fato, ser transformada em hambúrgueres sem carne, em pós de proteína ou em substitutos de laticínios, dependendo do modo como é tratado. Os primeiros produtos foram lançados em fevereiro de 2021 e a primeira fábrica na primavera do mesmo ano. Em janeiro de 2024, a empresa lançou o primeiro iogurte à base de fungos, a nível internacional, como o uso do Fy.
Alimentação com os micróbios a nível internacional
A simplicidade é o que torna a nova proteína revolucionária. Como forma de micélio (proteína do fungo), o Fy pode crescer em pequenos tabuleiros de metal de baixa tecnologia com uso de terra e água. Também liberta menos gases com efeito de estufa do que a produção de carne bovina.
De acordo com um estudo de 2024, publicado no Journal of Agricultural and Food Chemistry, e realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, alimentos inovadores produzidos à base do micélio proporcionaram reduções substanciais nos indicadores que medem as pressões ambientais.
Ver até onde esta tecnologia pode ser levada a cabo foi também o que atraiu, recentemente, o financiamento da Fundação Bill & Melinda Gates. Sabe-se que existem algumas áreas mais críticas quer para a utilização, quer para a produção desta proteína. A Nature's Fynd está procurando entender um modo de produção de Fy mais sustentável para humanos, sobretudo sustentando-se no modo como o microrganismo pode ser usado noutros momentos do ciclo alimentar.
Em África, esta solução pode ser benéfica para diminuir a dependência das culturas para alimentar o gado, mas é certo que o conhecimento sobre estes microrganismos pode ajudar muito mais noutras áreas. Uma delas prende-se com a monitorização dos patogênicos que atacam a biodiversidade.
Referência da notícia:
Holt, R. R., Munafo Jr, J. P., Salmen, J., Keen, C. L., Mistry, B. S., Whiteley, J. M., & Schmitz, H. H. (2023). Mycelium: A Nutrient-Dense Food To Help Address World Hunger, Promote Health, and Support a Regenerative Food System. Journal of Agricultural and Food Chemistry, 72(5), 2697-2707. https://doi.org/10.1021/acs.jafc.3c03307