Furacões do Atlântico Norte carregam altas concentrações de microplásticos para dentro do continente!

O furacão Larry quando atingiu a costa do Canadá em setembro de 2021, não só depositou muita chuva e ventos na região, mas depositou uma enorme quantidade de microplásticos! De onde esse microplástico veio? Da grande “mancha de lixo” do Atlântico Norte!

Microplástico em furacões
O Furacão Larry atingiu o Canadá em setembro de 2021, carregando uma grande quantidade de microplásticos. Imagem: NOAA.

Nos últimos anos diversos estudos têm alertado sobre a presença de microplásticos em diversas partes do planeta, desde o fundo dos oceanos até mesmo dentro do corpo dos seres humanos, gerando uma grande preocupação em relação a saúde do planeta e dos seres vivos que o habitam! Agora um novo estudo publicado na Communications Earth & Environment, da aclamada revista Nature, revela que os microplásticos também estão presentes dentro dos furacões!

Os microplásticos são pequenas partículas de plástico, com menos de 5 milímetros, que resultam da degradação de produtos plásticos maiores, como embalagens, garrafas e outros produtos com plástico em sua composição.

A atmosfera, graças às suas grandes células de circulação e escoamento de ventos, pode transportar grandes quantidades de partículas, incluindo os microplásticos, por milhares de quilômetros, dispersando-as e depositando-as em regiões remotas do planeta. Mas até então, pouco se sabia a respeito do papel dos sistemas meteorológicos nesse transporte de microplásticos pelo planeta.

Os microplásticos são um dos principais poluentes do planeta nos dias atuais, estando presentes em diversas regiões remotas e improváveis.

Com a intenção de preencher essa lacuna científica, um grupo de pesquisadores internacionais uniram esforços para estudar o possível efeito de poderosos sistemas meteorológicos, como os furacões do Atlântico Norte, no transporte e deposição dos microplásticos. O elemento principal de estudo foi o furacão Larry, que atingiu Newfoundland, Canadá, no dia 11 setembro de 2021, como um furacão de categoria 1.

De acordo com os pesquisadores, o furacão Larry se manteve sobre o oceano Atlântico Norte na maior parte de sua trajetória, antes de atingir o continente em Newfoundland. Essa região do território canadense tem uma densidade populacional relativamente baixa, o que significa que não possui fontes diretas que justifiquem uma grande quantidade de microplásticos. Portanto, a passagem de Larry deu aos pesquisadores a oportunidade de inferir a quantidade de microplástico transportada e depositada pelo furacão, sem se preocupar com contribuições vindas de outras fontes.

Furacões agora são compostos por microplásticos?

Os pesquisadores fizeram diversas coletas de material depositado na superfície no período entre 9 a 12 de setembro de 2021, ou seja, antes, durante e depois da passagem do furacão Larry em uma comunidade rural remota de Newfoundland, utilizando cilindros de vidro com água pura. Durante o pico do furacão foram depositados 113 mil microplásticos por metro quadrado ao dia, uma quantidade muito maior que as encontradas em outros estudos que inferiram a deposição de microplásticos durante eventos de monções e tufões.

Mesmo antes e depois da passagem do furacão foram identificadas altas quantidades de deposição de microplásticos na região, da ordem de 500 a 6 mil microplásticos por metro quadrado ao dia, que podem ter sido carregados pelos ventos do furacão, já que o sistema tem poder para influenciar as condições locais de tempo, mesmo não tocando o solo.

Ilustração da trajetória de todos os furacões desde 1851, com destaque para a trajetória do furacão Larry, sobre a grande “mancha de lixo” do Atlântico Norte, com altas concentrações de microplástico. Imagem retirada de Ryan et al (2023).

Além da coleta de material, os pesquisadores também utilizaram técnicas de modelagem para inferir de onde vieram estes microplásticos transportados pelo furacão. Os resultados confirmaram aquilo que os pesquisadores já suspeitavam: muito provavelmente os microplásticos vieram do Oceano Atlântico Norte! Durante sua trajetória, Larry passou sobre uma região conhecida como “mancha de lixo” no Atlântico Norte, uma ampla região com altas concentrações de microplásticos próximo à superfície.

O oceano é frequentemente considerado um “depósito” de microplásticos, mas esse estudo mostra que os oceanos podem também ser uma fonte de microplásticos, já que as partículas presentes nas águas superficiais podem ser suspensas na atmosfera, transportadas pelos sistemas meteorológicos e depositadas novamente no continente. Portanto, o transporte e deposição de microplásticos pelos furacões tem potencial para gerar consequências graves para os ecossistemas de regiões remotas do planeta, principalmente em um futuro onde esses sistemas se tornarão ainda mais fortes e poderosos!

Referência da notícia:

Ryan, A.C., Allen, D., Allen, S. et al. "Transport and deposition of ocean-sourced microplastic particles by a North Atlantic hurricane." Commun Earth Environ 4, 442 (2023). https://doi.org/10.1038/s43247-023-01115-7