Garimpo ilegal de ouro aumenta as emissões de carbono e eleva a concentração de mercúrio no solo

Estudo mostra que a mineração ilegal de ouro libera carbono e mercúrio, aumentando as emissões de carbono e contaminando solos, rios e alimentos.

Brasil
O mercúrio utilizado no garimpo de ouro atinge os leitos dos rios, contamina os peixes e contribui para o aumento das emissões de carbono. Foto: EBC.

A mineração ilegal de ouro nos biomas brasileiros representa uma grave ameaça ambiental, gerando a liberação de carbono sequestrado, removido da atmosfera e armazenado no solo. Além disso, essa prática eleva a concentração de mercúrio no solo, um metal extremamente tóxico. Um estudo recente analisou áreas mineradas, tanto ativas quanto inativas, nos biomas Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, registrando perdas de carbono que chegam a 50%.

Como consequência, observou-se um aumento de até 70% na disponibilidade de mercúrio, especialmente durante a estação seca, período em que o calor intensifica a perda de carbono e a decomposição de matéria orgânica. Esse cenário representa um sério risco à saúde das comunidades locais, que ficam expostas a esse metal tóxico.

Os riscos da mineração ilegal no Brasil

A mineração ilegal de ouro provoca dois impactos principais: a liberação de dióxido de carbono, intensificando os gases de efeito estufa, e o aumento da concentração de mercúrio no solo, um poluente altamente tóxico que pode contaminar a cadeia alimentar.

Brasil
Representação da contaminação do solo por mercúrio e do aumento das emissões de carbono devido à degradação ambiental. Fonte: Soares, 2024.

Sendo bioacumulativo, grande parte do mercúrio pode estar presente em alimentos cultivados nas proximidades dessas áreas, além de pescados possivelmente contaminados, frequentemente consumidos por ribeirinhos e indígenas, como apontam estudos – o que ocasiona um grave problema de saúde pública.

Com o mercúrio mais disponível no solo, aumenta significativamente a probabilidade de organismos vivos entrarem em contato com ele, elevando os riscos de contaminação e os impactos à saúde.

A Amazônia e o Pantanal são os mais impactados, pois o clima quente e úmido acelera a degradação da matéria orgânica, intensificando tanto as emissões de carbono quanto a mobilidade do mercúrio.

No Cerrado, a estação seca agrava a decomposição da matéria orgânica, ampliando a liberação de carbono e a disponibilidade de mercúrio, enquanto o excesso de chuvas no período chuvoso reduz a oxigenação do solo. Já a Mata Atlântica, após um longo período sem mineração ativa, mostrou maior capacidade de recuperação, com o retorno da vegetação e a estabilização do mercúrio nos solos.

Uma solução sustentável: biocarvão

No garimpo, o mercúrio é usado para separar o ouro encontrado no solo ou na água, formando uma substância chamada amálgama, uma liga metálica criada pela combinação do mercúrio com partículas de ouro. Essa mistura é posteriormente aquecida, provocando a evaporação do mercúrio e deixando apenas o ouro.

A exposição ao mercúrio pode causar problemas renais, cardiovasculares, imunológicos e neurológicos, como registrado em indígenas do povo Yanomami de nove aldeias assediadas pelo garimpo em Roraima.

Algumas espécies têm a habilidade de captar metais potencialmente tóxicos, minimizando sua presença no ambiente e os riscos à saúde pública. Contudo, em certos casos, é preciso incorporar compostos orgânicos para estimular o crescimento das plantas e facilitar a absorção do metal, já que elas não se desenvolvem bem em solos com altas concentrações de mercúrio, por exemplo. A matéria orgânica no solo desempenha um papel essencial na retenção desse metal.

Uma solução viável seria o uso de biocarvão produzido a partir de sementes de açaí, que apresenta propriedades capazes de reter metais potencialmente tóxicos e melhorar a qualidade do solo. Além disso, essa abordagem é sustentável, pois aproveita um resíduo amplamente disponível na região amazônica.

Referência da notícia

SOARES, Matheus B.; RODRIGUES, Rebeca R.; PÉRES, Laura O.; CERRI, Carlos Eduardo P.; ALLEONI, Luís Reynaldo F. Impact of climatic seasons on the dynamics of carbon, nitrogen and mercury in soils of Brazilian biomes affected by gold mining. Science of The Total Environment, v. 954, p. 176279, 2024. DOI: 10.1016/j.scitotenv.2024.176279.