Império Tibetano: sua ascensão e queda foram influenciadas pela mudança climática
Pesquisadores coletaram dados de um lago no Planalto do Tibete e reconstruíram registros climáticos dos últimos 2 mil anos na região. Tudo indica que a mudança climática contribuiu para a queda e ascensão do Império.
O antigo Império Tibetano, na Ásia central, foi um poderoso reino dos séculos 7 a 9. Ele ascendeu, atingindo seu auge por volta do século 8, e então caiu repentinamente, assim como as condições climáticas no Planalto tibetano, que também mudaram.
O interesse em entender como os fatores ambientais poderiam estar relacionados com a sua queda e ascensão foi o que instigou os pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências (CAS), da Universidade Lanzhou da China e da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA). Eles publicaram um estudo recente na revista Science Bulletin, no qual descrevem que as mudanças climáticas tiveram ligação com a ascensão e a queda do Império Tibetano entre 600 e 800 d.C.
Como era o Império Tibetano?
O Império Tibetano, ou Império do Tibete, existiu entre os séculos 7 e 9 (629 à 841), quando o Tibete foi unificado em um grande e poderoso império. Ele ocupava uma área maior que o Planalto Tibetano, estendendo para partes do leste, centro e sul da Ásia.
Durante sua existência, o Império conquistou partes de Xinjiang e Caxemira, além de um trecho da lendária Rota da Seda. O seu primeiro imperador foi Songtsen Gampo. Segundo historiadores, o reino possuía seu exército que era convocado apenas para eventos específicos. Os guerreiros se reuniam todo o ano para jurar fidelidade, e a cada três anos para celebrar um banquete sacrificial.
Atingiu o seu auge no início do século 8, expandindo-se por uma área de cerca de 4,6 milhões de quilômetros quadrados, e abrigou mais de 10 milhões de pessoas. Mas então, a partir daí o império colapsou repentinamente.
Mudanças climáticas e o Império Tibetano
Para o estudo, os pesquisadores analisaram carbonatos e isótopos de oxigênio em camadas de sedimentos coletados no lago Jiang Co, no centro do Planalto do Tibete. Eles também coletaram biomarcadores deixados por algas antigas, reconstruindo o registro de temperatura e de precipitação dos últimos 2 mil anos da região.
Eles acreditam que o Império ascendeu e caiu de acordo com as mudanças climáticas, quando houve a mudança de um clima quente e úmido para um clima frio e árido. Entre 600 e 800 d.C., as temperaturas no verão eram 2°C mais quentes do que nos períodos frios anteriores e subsequentes a isso.
As mudanças na profundidade e no tamanho do lago Jiang Co mostram que essa época quente coincidiu com o aumento das chuvas, o que favoreceu a agricultura e a pecuária na região. Com essas atividades predominantes, o Império se fortalecia. Eles estimam, por exemplo, que o cultivo de cevada tenha aumentado 24,48% entre 660 e 800 d.C.
Já entre o final do século 8 e início do século 9, a precipitação reduziu significativamente. Uma seca severa impactou a área onde se plantava cevada, que diminuiu em 10,88 milhões de hectares, prejudicando a atividade agrícola. Isso contribuiu com o decaimento do Império. “O pico da seca em aproximadamente 840 d.C. coincidiu com o colapso do Império Tibetano”, dizem os autores no estudo.
E os pesquisadores ainda concluem que “esse declínio nos recursos agrícolas, além de conflitos religiosos, pode ter resultado em mais guerras entre diferentes tribos, e acelerou a fragmentação do Império após décadas de seca”.