Incêndios florestais criam clima propício a mais incêndios, segundo estudo
Cientistas da Califórnia descobriram que a fuligem produzida pelos incêndios florestais retém a luz solar e afeta o clima da região.
Um estudo recente da Universidade da Califórnia, em Riverside, revelou como a fuligem de grandes incêndios florestais na Califórnia afeta o clima local, fazendo com que os dias se tornem mais quentes e secos, propício à geração de novos incêndios.
Diferentemente de estudos anteriores, que enfatizam como as mudanças climáticas favorecem a ocorrência de incêndios florestais, este estudo propôs o caminho oposto: entender como os aerossóis emitidos pelos incêndios podem alterar o clima nos períodos de maior propagação dos incêndios.
Os pesquisadores analisaram dados meteorológicos durante a temporada de incêndios florestais (junho-outubro) entre 2003 e 2023, no norte da Califórnia e na região de Nevada. Mas, em particular, analisaram os dias em que ocorreram incêndios com temperaturas mais baixas e umidade mais elevada.
“Observamos dias anormalmente frios ou úmidos durante a temporada de incêndios, com e sem incêndios. Isso elimina em grande parte os efeitos do clima de incêndio”, disse James Gomez, principal autor do estudo.
Os resultados foram convincentes: os incêndios não só aumentam as temperaturas diárias em cerca de 1 grau Celsius, mas também reduzem a umidade atmosférica. Esse fenômeno, por sua vez, cria condições mais secas e quentes, ideais para a propagação de novos incêndios.
Impacto da fuligem do fogo no clima da Califórnia
Existem sprays reflexivos e sprays absorventes. Os absorvedores prendem e retêm a luz solar e o calor na atmosfera. Isso pode aumentar as temperaturas e reduzir a formação de nuvens, o que leva a menos chuvas e é um problema para regiões propensas à seca.
A fuligem gerada pelos incêndios atua como um aerossol absorvente, retendo a luz solar. “Os incêndios emitem fumaça com carbono negro ou fuligem. Por ser muito escuro, a fuligem absorve a luz solar mais facilmente do que coisas brilhantes ou reflexivas”, acrescentou o cientista.
Esse fenômeno inibe a formação de nuvens e, portanto, a precipitação, fazendo com que a região fique mais seca. “O carbono negro emitido por esses incêndios florestais na Califórnia não aumenta a quantidade de nuvens”, disse Gomez. “Parece que esses incêndios estão criando seu próprio clima de incêndio”.
O estudo, publicado na revista Atmospheric Chemistry and Physics, destaca a complexa interação entre incêndios florestais, aerossóis atmosféricos e clima. Propõe que, além de reduzir as emissões de CO2 e metano, a gestão da fuligem e de outros aerossóis poderia ser crucial para mitigar os efeitos adversos dos incêndios no clima.
Os autores enfatizam a necessidade de implementar práticas de manejo florestal que permitam incêndios controlados mais frequentes. Isso ajudaria a reduzir a densidade da vegetação combustível e, portanto, a intensidade dos incêndios.
Com medidas eficazes, como a gestão florestal sustentável e a promoção de queimadas controladas, a Califórnia poderia reduzir significativamente a ameaça de incêndios catastróficos e as suas consequências climáticas. Esta abordagem integrada poderá oferecer um caminho para um futuro mais seguro e resiliente face aos desafios climáticos que a região enfrenta.
Referência da notícia:
James L. Gómez, Robert J. Allen y King -Fai Li. California wildfire smoke contributes to a positive atmospheric temperature anomaly over the western United States. Atmospheric Chemistry and Physics. 14 de junio de 2024