Incêndios no Pantanal e suas consequências ocultas: estudo revela efeitos surpreendentes para a saúde em São Paulo
Um novo estudo mostra que os incêndios no Pantanal em 2020 não só devastaram o bioma, mas também causaram um aumento alarmante na mortalidade em São Paulo, destacando os perigos da fumaça e do calor extremo para a saúde
Estudo publicado na revista Natural Hazards mostra que os efeitos dos incêndios no Pantanal em 2020 vão muito além da devastação local. De acordo com os pesquisadores, o impacto foi sentido a milhares de quilômetros de distância, atingindo regiões populosas como o estado de São Paulo. A pesquisa revelou que a fumaça dos incêndios não só piorou a qualidade do ar, mas também causou um aumento significativo na mortalidade, principalmente durante os episódios de calor extremo que ocorreram simultaneamente.
Os resultados são alarmantes: houve um aumento de 21% na mortalidade por causas não relacionadas à COVID-19 em São Paulo, comparado aos últimos dez anos. Este dado mostra como eventos climáticos extremos, como ondas de calor e secas, podem intensificar os danos à saúde quando combinados com a poluição por fumaça. É fundamental entender como esses fenômenos se interligam para que possamos tomar medidas adequadas de prevenção e mitigação.
Fumaça: o elo invisível entre Pantanal e São Paulo
A fumaça gerada pelos incêndios no Pantanal em 2020 não ficou restrita ao bioma. Segundo o estudo, três grandes episódios de transporte de fumaça alcançaram São Paulo, impactando diretamente a qualidade do ar e elevando os níveis de PM2.5 — uma das partículas mais prejudiciais à saúde respiratória. Em alguns dias, a concentração de PM2.5 superou em até 600% os limites recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Essa poluição agravou ainda mais as condições de saúde da população, especialmente durante as ondas de calor. As regiões do estado que receberam maior concentração de fumaça também foram as que apresentaram um aumento expressivo no número de mortes não relacionadas à COVID-19. Essa relação evidencia a importância de se considerar não apenas os efeitos isolados de eventos climáticos extremos, mas também como eles interagem e amplificam os riscos para a saúde.
Impactos para a saúde pública e a necessidade de ação
Os efeitos combinados da seca, ondas de calor e da fumaça dos incêndios têm um impacto significativo na saúde pública. O estudo aponta que, durante o período de exposição à fumaça e ao calor extremo.
Medidas como a melhoria na gestão de áreas suscetíveis ao fogo e a adoção de estratégias de governança que transcendem fronteiras regionais são essenciais. A fumaça dos incêndios não respeita limites estaduais ou nacionais, e por isso é importante pensar em soluções integradas que envolvam diferentes setores e regiões.
O futuro dos incêndios e a importância da colaboração internacional
Os eventos climáticos extremos estão se tornando mais comuns, e os incêndios no Pantanal de 2020 são apenas um exemplo de como seus efeitos podem se espalhar e impactar regiões distantes. Para o futuro, é crucial que haja colaboração internacional na criação de políticas de prevenção e resposta a desastres, como incêndios florestais e ondas de calor.
Este estudo é um lembrete da interconexão entre os biomas e as grandes cidades. Não podemos ignorar os efeitos dos desastres naturais, pois eles impactam não só os locais afetados diretamente, mas também comunidades a milhares de quilômetros de distância. A integração de esforços globais para gestão de riscos ambientais é essencial para enfrentar os desafios que vão surgir com o avanço das mudanças climáticas.
Referência da noticia:
Monteiro dos Santos, D., de Oliveira, A.M., Duarte, E.S.F. et al. Compound dry-hot-fire events connecting Central and Southeastern South America: an unapparent and deadly ripple effect. npj Nat. Hazards 1, 32 (2024).