Índia, Paquistão, Canadá... Calor extremo e recordes de temperatura
Esta primavera assistimos a uma onda de calor excecional na Índia e no Paquistão, tanto na persistência como na extensão da área afetada, bem como os valores de temperatura elevados, embora estejam longe do recorde mundial de calor estabelecido pela Organização Meteorológica Mundial.
Um dos impactos do aquecimento global são as ondas de calor. Na medida em que a temperatura média planetária continue a subir, sua frequência, magnitude e extensão aumentarão, como começou a ser visto nos últimos anos. As ondas de calor não são algo novo, sempre existiram e algumas de magnitude ainda maior do que as que estamos observando agora. Um estudo recente certificou isso, mas o que parece ser uma novidade é a recorrência com que ondas de calor particularmente extremas estão ocorrendo agora e o fato de que cada vez mais áreas da Terra são afetadas por ela.
Particularmente impressionantes são as ondas de calor que ocorreram nos últimos anos em altas latitudes no hemisfério norte, afetando grandes áreas da Sibéria. O evento meteorológico de 38°C medido em 20 de junho de 2020 na cidade russa de Verjoyansk, localizada acima do Círculo Polar Ártico, foi particularmente marcante e comentado. Os dados foram certificados pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), sendo até o momento o valor de temperatura mais alto registrado na região do Ártico.
Também não podemos esquecer a extraordinária onda de calor que afetou o oeste da América do Norte no início do verão passado, com um recorde reconhecidamente incrível de 49,6°C medidos na pequena cidade canadense de Lytton, na Colúmbia Britânica, em 29 de junho de 2021, que foi devastada pelo fogo dos devastadores incêndios florestais que ocorreram na área.
A atual onda de calor extremo na Índia e no Paquistão
Nesta primavera, o episódio persistente de altas temperaturas que está afetando totalmente a Índia e o Paquistão está ganhando as manchetes. Desde março passado, diferentes ondas de calor em grande escala foram encadeadas, afetando um vasto território, com centenas de milhões de pessoas enfrentando condições tão extremas. Embora os meses que antecedem a chegada da estação chuvosa das monções sejam quentes na região, o que aconteceu este ano está superando o que sabíamos até agora.
Em centenas de localidades destes países asiáticos (alguns deles grandes e densamente povoados) há muitos dias em que foram medidas temperaturas máximas entre 40°C e 45°C, chegando mesmo a ultrapassar este valor. Um caso muito marcante é o da cidade paquistanesa de Jacobabad, com cerca de 200.000 habitantes, onde por mais de um mês consecutivo a temperatura máxima diária atingiu ou ultrapassou os 40°C, com muitos dias em que os 45°C foram ultrapassados, chegando na última onda de calor extremo, 50°C, além da concatenação de noites extremamente quentes, com mínimos que algumas noites não passaram de 30°C, tanto lá como em muitos outros lugares da região.
Embora esses dados falem por si mesmos da excepcionalidade do calor, eles foram inflacionados em alguns meios devido a uma má interpretação dos produtos de sensoriamento remoto. O mapa de temperatura que acompanha essas linhas é um deles. Feito a partir dos dados registrados pelo satélite Copernicus Sentinel 3, o que ele mostra são valores de temperatura do solo: o que irradia para cima e é captado por um dos sensores do referido satélite. Em algumas áreas, esta temperatura radiante chegou a 60°C, e este valor tem sido colocado em circulação por vários meios, indicando que temperaturas máximas desta ordem estavam sendo atingidas na Índia e no Paquistão, quando – como apontamos – os valores mais altos da temperatura variável (meteorológica) estão se movendo em uma faixa que vai de 45°C a 50°CC.
Registros oficiais e não oficiais de temperatura
No momento, as temperaturas registradas na Índia e no Paquistão estão longe do valor que a OMM reconhece como o mais alto já medido em nosso planeta. São os 56,7°C medidos em 10 de julho de 1913 na estação meteorológica de uma antiga fazenda localizada no Vale da Morte na Califórnia, que é um dos lugares mais quentes da Terra. Por muitos anos, o recorde mundial foi considerado os 58°C medidos na cidade líbia de El Azizia em 13 de setembro de 1922.
As dúvidas que existiam sobre a validade do registro levaram a OMM a criar um grupo especial de especialistas, dentro de sua Comissão Internacional de Climatologia, que durante 2010 e 2011 investigou minuciosamente todas as circunstâncias que envolveram esse registro histórico, para finalmente decidir, em 2012, que a medição estava errada, o que invalidou esse recorde, tornando Death Valley o novo recorde mundial de temperatura mais alta.
Quando revisamos as efemérides meteorológicas encontramos dados de temperaturas mais altas. Em alguns casos, conforme discutido com a atual onda de calor extremo de 60°C na Índia e no Paquistão, essas são temperaturas do solo medidas por satélites. Existem valores documentados muito superiores aos que o Sentinel 3 mediu dias atrás, como 80,8°C que foram medidos em maio de 2021 tanto em uma área do deserto de Lut, no Irã, quanto no deserto de Sonora, no México.
No que diz respeito às temperaturas do ar medidas em estações meteorológicas terrestres ou observatórios, encontramos vários registros superiores a 56,7°C no Vale da Morte, mas hoje eles não são aprovados pela OMM, o que não impede que algum deles possa ser no futuro se a Climatologia A Comissão considera adequado revisá-lo, como foi feito com os 58°C na Líbia (rejeitando-o neste caso). Um deles é o 70°C que foi medido durante alguns minutos em 6 de julho de 1949 na cidade portuguesa de Figueira de Foz. Um golpe quente provocou o aumento súbito da temperatura, mas o registro não atendeu aos rígidos requisitos estabelecidos pela OMM para considerá-lo válido e, portanto, oficial.