Influência antropogênica: o ser humano está perturbando o “ciclo do sal” em escala global
De acordo com uma nova pesquisa, o ‘ciclo do sal’ natural em escala global está sendo afetado pelo ser humano, o que poderá representar uma “ameaça existencial” se as tendências atuais continuarem.
Sabemos que a demanda de sal tem um custo para o meio ambiente e para a saúde humana. A produção global aumentou rapidamente ao longo do último século para diferentes tipos de sais, com cerca de 300 Megatoneladas de cloreto de sódio (NaCl), conhecido como sal de cozinha, produzidos por ano.
Segundo um estudo de revisão, publicado recentemente na revista Nature Reviews Earth & Environment, e liderado por Sujay Kaushal, professor de geologia da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, a intervenção humana está tornando o ar, o solo e a água doce mais salgados, o que pode ameaçar a vida no planeta no futuro.
Como as atividades humanas estão afetando o ciclo do sal?
Os pesquisadores analisaram informações da variedade de íons de sal encontrados no subsolo e em águas superficiais, e estimam que a salinização do solo (super acúmulo de sais minerais) causada pelo ser humano afetou cerca de 1 bilhão de hectares de solo em todo o mundo — uma área do tamanho dos Estados Unidos.
Segundo o artigo, as atividades antropogênicas aceleraram os processos, as escalas de tempo e as magnitudes dos fluxos de sal e alteraram a sua direcionalidade, criando o que chamaram de “ciclo antropogênico do sal”. Essas atividades humanas incluem a mineração, o desenvolvimento de terras, a agricultura, tratamento de água e estradas, e outras tarefas industriais. Em situação extrema, isso pode até tornar a água potável insegura para o consumo humano e animal.
“Quando as pessoas pensam em sal, tendem a pensar em cloreto de sódio, mas nosso trabalho ao longo dos anos mostrou que perturbamos outros tipos de sais, incluindo aqueles relacionados ao calcário, gesso e sulfato de cálcio”, disse Kaushal.
A pesquisa indica ainda que a quantidade de íons de sal também aumentou em córregos e rios nos últimos 50 anos, coincidindo com um aumento na utilização e produção global de sais. E não é só isso. O ar também ficou mais salgado; em algumas regiões do planeta, os lagos estão secando e enviando plumas de poeira salina para a atmosfera.
Essa poeira salina pode acelerar o derretimento da neve e prejudicar comunidades locais – especialmente no oeste dos Estados Unidos – que dependem da neve para o abastecimento de água. Pela sua estrutura, os íons salinos podem se ligar a contaminantes em solos e sedimentos, formando “coquetéis químicos” que circulam no meio ambiente e têm efeitos prejudiciais.
Preocupações…
Assim como existem medidas para diminuir as emissões de dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera a fim de mitigar os efeitos das mudanças climáticas, os autores pedem que sejam implantados limites em nosso planeta para o uso seguro e sustentável do sal.
O excesso de sal faz com que a salinização da água doce se estenda para além das reservas de água doce e afete a produção de alimentos e energia, a qualidade do ar, a saúde humana e as infraestruturas.
"Este é um problema muito complexo porque o sal não é considerado um contaminante primário na água potável nos Estados Unidos, então regulá-lo seria uma grande empreitada. Mas eu realmente considero que é uma substância que está aumentando no ambiente para níveis prejudiciais", disse Kaushal.