Instituto Butantan irá desenvolver e produzir uma vacina contra a gripe aviária em humanos

O Instituto Butantan anunciou o desenvolvimento e produção de uma vacina contra a gripe aviária (H5N1) em humanos, em resposta a grande circulação desse vírus em diferentes animais, como aves e mamíferos. A taxa de letalidade da gripe aviária pode chegar a 50%.

gripe aviária
O Instituto Butantan anunciou o desenvolvimento e produção de uma vacina contra a gripe aviária (H5N1) em humanos, frente a possibilidade de surtos.

Recentemente, o Instituto Butantan anunciou que iniciará a produção da primeira vacina contra a gripe aviária em humanos do Brasil. A instituição irá se reunir com o Ministério da Saúde para acertar os detalhes dos estudos clínicos e contará com três cepas enviadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) do vírus da gripe aviária para a elaboração desse imunizante: duas de H5N1 e uma de H8N1. A instituição tem amplo conhecimento e estrutura para produzir em larga escala o imunizante.

Um perigo bem alertado

No início de 2023, um relatório do Eurosurveillance descreveu "um surto de influenza aviária altamente patogênica (IAAP) A (H5N1) detectado em visons (ou minks do inglês) de criação no noroeste da Europa, em outubro de 22", com a taxa de mortalidade alcançando valores em 4,3% nessa espécie. Nas semanas anteriores à identificação desse surto, diferentes casos IAAP H5N1 em aves selvagens, encontradas doentes ou mortas, foram notificados na página do Ministério da Agricultura, Pesca e Alimentação da Espanha.

Segundo o Eurosurveillance, a "versão" do H5N1 detectada em visons foi chamada de vírus IAAP H5N1 clado 2.3.4.4b.
Os vírus detectados na fazenda de visons se distinguem de todos os vírus H5N1 da clado 2.3.4.4b caracterizados até agora na população aviária da Europa, pois apresentam uma mutação incomum (T271A) no gene PB2, que pode ter implicações para a saúde pública. - Eurosurveillance

Essa alteração no material genético também foi vista no vírus relacionado a gripe suína (influenza A H1N1), na pandemia de 2009. Ainda, a presença dessa alteração no gene PB2 "desempenha um papel fundamental na aquisição pelo vírus de outra mutação, a qual confere o reconhecimento do receptor humano", podendo trazer riscos para uma maior infecciosidade em pessoas.

Primeira detecção em aves selvagens no Brasil

No dia 10 de maio de 2023, Serviço Veterinário Oficial (SVO) começou a investigar casos suspeitos de IAAP H5N1 em três aves silvestres no litoral do Espírito Santo (ES). Duas aves marinhas da espécie Thalasseus acuflavidus, e uma terceria ave da espécie Sula leucogaste foram resgatadas pelo Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos de Cariacica (Ipram).


As amostras desses animais foram enviadas ao Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo (LFDA-SP), unidade de referência da Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA), que confirmou se tratar de Influenza Aviária de Alta Patogenicida (IAAP) de subtipo H5N1. Esses foram os primeiros casos de IAAP registrados no Brasil - Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA)

O MAPA reforça que " a notificação da infecção pelo vírus da IAAP em aves silvestres não afeta a condição do Brasil como país livre de IAAP e os demais países membros da OMSA não devem impor proibições ao comércio internacional de produtos avícolas brasileiros".

MAPA declara emergência zoossanitária em todo o território nacional

Cerca de uma semana depois, o MAPA fez a declaração da emergência zoossanitária pela detecção de IAAP no Brasil. A declaração está em vigência por 180 dias, permitindo movimentações e recursos para " evitar que a doença chegue na produção de aves de subsistência e comercial, bem como para preservar a fauna e a saúde humana", segundo o MAPA.

"Emergência "zoossanitária", como o próprio nome sugere, é um estado de alerta relacionado à contaminação entre os animais. Ainda não é um alerta relacionado à saúde humana, embora as ações de prevenção sejam importantes, pois humanos podem sim contrair a doença" - G1

Cabe reforçar que até o presente momento, não há evidência ou registro de transmissão humano para humano sustentada para o H5N1 em questão.

Até o momento, são oito casos confirmados em aves silvestres, sendo sete no estado do Espírito Santo (três ainda aguardando o sequenciamento), nos municípios de Marataízes, Cariacica, Vitória, Nova Venécia, Linhares e Itapemirim, e um caso no estado do Rio de Janeiro, em São João da Barra. - MAPA

A declaração também prevê, por tempo indeterminado, "a suspensão de realização de exposições, torneios, feiras e outros eventos com aglomeração de aves e a criação de aves ao ar livre", por exemplo.

Evitando futuros surtos

Movimentações como essa são muito importantes justamente para evitar possíveis surtos em criadouros de aves domésticas e/ou entre aves selvagens e outros animais, bem como o transbordamento (ou spillover, do inglês) para outras espécies, como a humana. Casos em humanos são vistos de forma esporádica, e podem trazer riscos para agravamentos.

Cabe reforçar que cada vez que o vírus infecta novos hospedeiros, maiores são os riscos de adquirir alterações em seu material genético que podem propiciar adaptações de interesse, como uma maior transmissibilidade dentro da nossa espécie, por exemplo.

Segundo o MAPA, é importante que a população geral evite a exposição nesse momento, não recolhendo as aves que encontrarem doentes ou mortas e acionando os canais oficiais da vigilância no município para o manejo adequado.

Ainda, não há indicativos de que uma pessoa possa se contaminar por consumir carne ou ovos de aves. O importante é evitar o contato com secreções ou fluídos de animais infectados, estando o animal vivo ou morto.