Inteligência Artificial prevê que o aquecimento global excederá 1.5°C
Um estudo baseado em inteligência artificial sugere que o planeta ultrapassará o limite de aquecimento global de 1.5°C dentro de 10 a 15 anos, muito antes do esperado. Para piorar, a probabilidade de atingirmos 2°C de aquecimento, é muito alta!
Um novo estudo publicado no dia 30 de janeiro na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences fornece novas evidências de que o aquecimento global atingirá o limiar de 1.5°C acima dos níveis pré-industriais antes do esperado! O estudo alerta que vamos atingir esse limiar de aquecimento no início dos anos 2030, independente de futuros aumentos ou diminuições nas emissões de gases de efeito estufa na próxima década.
Essa nova estimativa foi feita através de uma aplicação de inteligência artificial para prever as mudanças climáticas futuras baseadas nas observações recentes de temperatura em todo o planeta! Além de estar muito presente nas tecnologias que usamos no nosso dia a dia, a inteligência artificial tem ganhado cada vez mais espaço no meio científico, incluindo a meteorologia e os estudos das variações climáticas.
Até então, muitos estudos utilizaram modelos climáticos globais para simular o aquecimento do planeta em diferentes cenários de emissões, além de técnicas estatísticas para estimar a taxa de aquecimento nos próximos anos. Nessa nova abordagem, Noah Diffenbaugh e Elizabeth Barnes, cientista climáticos das universidades de Stanford e Colorado, respectivamente, utilizaram um tipo de rede neural artificial - famoso método de inteligência artificial baseado no funcionamento dos neurônios do cérebro humano - treinada com um vasto conjunto de dados de saídas de modelos climáticos globais amplamente usados.
A partir desse treinamento, a rede neural foi capaz de aprender os padrões das simulações climáticas. Com isso, os pesquisadores fizeram com que a rede neural previsse a quantidade de anos que demoraria até que certo limiar de temperatura fosse atingido quando recebesse como informação de entrada mapas de anomalias reais de temperatura anual, ou seja, variações anuais da temperatura em relação a um período de referencia (no caso desse estudo, 1951 a 1980).
O principal resultado dado pelo algoritmo foi que independente do cenário de emissões dos próximos anos, vamos atingir o limiar de 1.5°C de aquecimento entre 2033 e 2035. A rede neural também indicou uma alta probabilidade de atingirmos o limite de aquecimento de 2°C em meados do século, por volta de 2060, mesmo com uma substancial mitigação das emissões de gases de efeito estufa.
Para testar o modelo de previsão de IA, os pesquisadores desafiaram a rede neural a prever o atual nível de aquecimento observado de 1.1°C, com base nos dados de anomalia de temperatura de cada ano entre 1980 a 2021. O resultado foi que o modelo conseguiu prever corretamente que o atual nível de aquecimento seria alcançado em 2022, com um intervalo provável de 2017 a 2027, surpreendendo os próprios autores do trabalho, que não acreditavam que o modelo de IA teria tamanha precisão.
Por que nos importamos tanto com o limiar de 1.5°C?
Foi no Acordo Climático de Paris de 2015 que 195 países se comprometeram em limitar o aquecimento da temperatura média do planeta bem abaixo de 2°C, de preferência até 1.5°C. Diversos cientistas do mundo inteiro chegaram ao consenso que o aquecimento de 1.5°C da temperatura média do planeta seria uma ponto de inflexão chave, a partir do qual, quando ultrapassado, haveria um grande aumento da frequência e probabilidade de ocorrência de eventos climáticos extremos, além de atingir outros pontos de inflexão climáticos, como o derretimento das geleiras e a extinção maciça de florestas.
Além disso, cientistas observaram que na reconstrução dos registros climáticos dos últimos 12.000 anos, período em que a temperatura média anual da Terra ficou em cerca de 14ºC, as temperaturas nunca variaram mais de 1.5ºC. E por se tratar de um período de regime climático estável, onde a vida foi capaz de prosperar na Terra, esse limiar foi determinado como “aquecimento máximo” que poderíamos atingir para manter uma vida sustentável na Terra.